VOZ PASSIVA. 58

23-07-2015 14:36

Os escritores António Telmo e António Quadros e um bolsista do Brasil – 2

Carlos Francisco Moura

 

Ler aqui a primeira parte:https://antonio-telmo-vida-e-obra.webnode.pt/news/voz-passiva-54/

 

[“Árvore chamada Jenipapeira e gente que pede esmola para a Festa do Espírito Santo Diamantino da Província de Mato Grosso. Janeiro, 1828. Hercules  Florence.” A Expedição Langsdorff em Mato Grosso: desenhos e pinturas inéditos há 150 anos]

 

Por indicação do Antonio Telmo fui procurar o Escritor Antonio Quadros, Diretor da Bibliotecas Itinerantes da fundação Calouste Gulbenkian.

- A quem devo anunciar?

- Um bolsista do Brasil.

António Quadros recebeu-me com a maior simpatia:

- É sempre com alegria que recebemos estudantes do Brasil que vêm estudar suas origens.

Mais satisfeito ficou ainda ao saber que trabalhava com Mestre Agostinho da Silva, e era amigo do António Telmo.

Expus o problema que estava tendo com a demora da concessão da bolsa e, por sugestão do Antonio Telmo, vinha propor a venda de exemplares da separata “Nagasáki, Cidade Portuguesa do Japão”, artigo publicado na Revista Stvdia, do Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, primeiro estudo publicado em Portugal

sobre a fundação da famosa cidade do Japão.

Antonio Quadros gostou muito do estudo, e comprou logo um bom número de separatas para as Bibliotecas Itinerantes..

Perguntou de que região de Portugal era minha família, e ao saber que da região de Coimbra, Província da Beira Litoral, chamou um senhor que estava trabalhando numa sala próxima:

- Branquinho, quero apresentar-lhe o Carlos Moura, que veio do Brasil fazer investigações históricas. A Família dele também é da sua região. Conte para nós uma daquelas suas histórias das montanhas da Beira.

Era o escritor Branquinho da Fonseca, que relatou, diante de nós um dos seus famosos contos: A Capela do Diabo. Uma experiência única: ouvir de viva voz de um grande autor, um conto antológico.

Não devo a António Quadros apenas a compra de separatas. Ao se despedir de mim, ele recomendou – O estudo sobre a fundação de Nagasáki é muito interessante, sugiro que procure o Prof. Artur Anselmo: ele coordena verbetes para o Dicionário da História de Portugal, de Joel Serrão.

Fui falar com o Prof. Artur Anselmo, e ele encomendou-me a redação do verbete Nagasaqui, para o Dicionário de Joel Serrão, e também conseguiu que escrevesse outro verbete Nagasáqui para a Enciclopédia Verbo. Os verbetes, posteriormente, saíram também nas segundas edições dessas obras. Assim, eu, recém-chegado do Brasil, sem conhecer quase ninguém da área acadêmica em Portugal, graças às indicações dos Professores Antonio Telmo, António Quadros e Artur Anselmo, em

pouquíssimo tempo tive textos de minha autoria publicados em obras de referência em Portugal. Encontrei-me com o Prof. Antonio Quadros outras vezes em Portugal, em conferências e eventos culturais. De volta ao Brasil, mantive correspondência com ele. Quando ele vinha ao Rio, ficava geralmente num hotel em Copacabana, na Av. Princesa Isabel. E telefonava-me: - Carlos Moura estou por apenas dois dias no Rio, pois sigo logo para S. Paulo e Brasília. Se você tiver tempo e puder passar pelo hotel, gostaria de saber o que anda estudando.

Num desses encontros ocorreu um fato singular.

- Vou fazer uma surpresa ao Professor: oferecer-lhe exemplar do meu livro que acaba de ser publicado: A Expedição Langsdorff em Mato Grosso: Desenhos e Pinturas inéditos há mais de 150 anos.

Cumprimentou-me pela publicação e ao abrir o livro uma surpresa ainda maior: a primeira página que apareceu foi a de número 58, que continha a reprodução de uma aquarela a cores intitulada “Árvore chamada Jenipapeira e gente que pede esmola para a Festa do Espírito Santo”, datada e assinada pelo autor “Diamantino da Província de Mato Grosso, janeiro, 1828 Hercules Florence”.

Uma surpresa e uma coincidência enorme, por ser o Prof. António Quadros estudioso da Festa do Espírito Santo, e abrir o livro justamente nessa página.

Basta lembrar dois estudos primorosos que publicou: Portugal Razão e Mistério: Introdução ao Portugal arquétipo – A Atlântida desocultada – o País Templário – Livro I Uma Arqueologia da Tradição Portuguesa (Lisboa: Guimarães Editores Lda, 1986) e Portugal Razão e Mistério, II – O Projeto Áureo ou o Império do

Espírito Santo, 2ª Edição (Lisboa: Guimarães Editores, 1987).

 

BIBLIOGRAFIA

• “Nagasaki, Cidade Portuguesa no Japão”. In: Revista Stvdia, nº 26, Lisboa: Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, abr.1969, PP.115-148, Il.

• “Nagasáqui” In Dicionário da História de Portugal, dirigido por Joel Serrão, 1ª. Edição, Lisboa: Iniciativas Editorias, 1971, PP. 448-449.

• “Nagasáqui” In: Verbo Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, 1ª. ed., vol. 13º. Lisboa: Ed. Verbo,1972, p. 1661.

• “Nagasaki cidade portuguesa do Japão”, In: Boletim do Museu e Centro de Estudos Marítimos de Macau, no. 1, Macau, China, Julho 1988, 18 p.

• “Nagasáqui” In Dicionário da História de Portugal, dirigido por Joel Serrão, 2ª. Edição, Porto: Livraria Figueirinha, 1984, pp. 448-449.

• “Nagasáqui” In: Verbo Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura Edição Século XXI, vol. 20. Lisboa / São Paulo: Editorial Verbo, 2001, pp. 1004-1005.

• A Expedição Langsdorff em Mato Grosso: Desenhos e pinturas Inéditos há mais de 150 anos. Rio dde Janeiro: Universidade Federal de Mato Gosso / Editora Imprinta, 1984.