VOZ PASSIVA. 06
Locais sagrados abandonados*
Eduardo Aroso
Manuel Breda Simões em «Tomar – o Templo e o Império do Graal», citando J. Markale, diz- nos que «um lugar sagrado permanece sempre sagrado mesmo que a religião tenha mudado». Esta afirmação – dela comungando muitos estudiosos do sagrado – faz-nos interrogar se a nação portuguesa, entendida como providencialismo histórico, não terá esse carácter sagrado na figura do Encoberto, a despeito de todas as metamorfoses histórias, e porventura até à sua suprema realização, isto é, se considerarmos o que vai do Milagre de Ourique ao verso pessoano «Senhor, falta cumprir-se Portugal!». António Telmo não se esqueceu de lembrar que os antigos locais sagrados abandonados, em tempos de degradação, já têm servido para a mais baixa magia. Aqui podemos encontrar algum paradoxo entre a afirmação de Telmo e Markale, aliás, na evidência do que se tornou Portugal. Mas tudo isto faz parte do nosso nevoeiro…
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* Excerto de artigo a publicar na rubrica "Registos", no n.º 13 da revista Nova Águia, a sair no 1.º semestre de 2014.