UNIVERSO TÉLMICO. 77
Da flórida flama: o figadal, a feeria, a construção do templo
Paulo Jorge Brito e Abreu
«O homem é um actor de Deus no palco do Universo.»
Jacob Levy Moreno
( dedico o meu labor à Cultura Duriense Transmontana do século XXI )
Qual «Homo Viator», enceto, agora, uma viagem. Tenho, na minha banca de trabalho, o «Sonho causado pelo voo de uma abelha ao redor de uma romã um segundo antes de acordar», por um homem que assina como Ferrer. E dele nós trataremos em crítica acribia. Que é dado a lume, o livrinho, por a Carava Ibérica. E em primo, primo lugar, dous pontos, agora, a salientar: o título do opúsculo é o título de um trabalho do Salvador Dalí ( Figueres, Catalunha, 11/ 05/ 1904 – Figueres, 23/ 01/ 1989 ), «no qual quadro surge uma atmosfera de fertilidade e sensualidade». Salvador Dalí, o Génio absoluto, um dos nomes mais altos da cultura espanhola. E foco sagrado e ponto segundo: é que abre, o livrinho, com um poema dedicado a Voltaire ( Paris, 21/ 11/ 1694 – Paris, 30/ 05/ 1778 ), a Voltaire, jucundamente, o «gigante de Ferney». A quem trata, Ferrer, por «mon cher frère». Me seja lícita, aqui, uma nótula, ou nota, autobiográfica: foi, Voltaire, o primeiro Filósofo que eu ledamente li. O iluminista está, para o século XVIII, como o está, Victor Hugo ( Besançon, 26/ 02/ 1802 – Paris, 22/ 05/ 1885 ), para o século XIX. Estrénua figura de Escritor profissional, Voltaire acamaradava com gigantes como Catarina a Grande ( Stettin, Prússia, 02/ 05/ 1729 – São Petersburgo, 17/ 11/ 1796 ) e Frederico II, da Prússia ( Berlim, 24/ 01/ 1712 – Potsdam, 17/ 08/ 1786 ). Escreveu, o que é obra, mais de 20. 000 cartas, escreveu, deveras, 2. 000 livros e panfletos. Utilizando, na verve, utilizando a palavra como o projéctil. E eis aqui o escopo dos livres-pensadores: eles «trabalham para dissipar as trevas / extinguir a superstição e o obscurantismo / combater os inimigos da Humanidade.» Aqui eis, na nossa opinião, a santa cruzada da Luz contra as trevas; pois Ferrer, o alumbrado e alteado, ele chicoteia a escuridão com golpes de Luz sacra. Como o fizeram, deveras, José Manuel Anes ( 21/ 06/ 1944 ), Mário Máximo ( 19/ 09/ 1956 ) e António de Macedo ( Lisboa, 05/ 07/ 1931 – Lisboa, 05/ 10/ 2017 ). Como o sentiram, também, o grado António Telmo ( Almeida, 02/ 05/ 1927 – Évora, 21/ 08/ 2010 ), o Professor Egas Moniz ( Avanca, 29/ 11/ 1874 – Lisboa, 13/ 12/ 1955 ) e António Arnaut ( Penela, Cumeeira, 28/ 01/ 1936 – Santo António dos Olivais, 21/ 05/ 2018 ). Que historicamente, o Doutor Egas Moniz foi matriciado, iniciado, na Loja Simpatia e União, em 15 de Dezembro de 1910. Se António Telmo escreveu, selecto, a «Gramática Secreta da Língua Portuguesa», António Arnaut, Poeta-Mor, é o criador, em parabém, do Serviço Nacional de Saúde. Sendo ele feitor e Autor, outrossim, de uma bela «Introdução à Maçonaria». Quanto a António de Macedo, cineasta e artista multifacetado, ele é Autor, entre outros livros, de um Ensaio Alquimístico – e falamos, e alçamos, o «Laboratório Mágico». Esta cópia de Escritores na Maçonaria, ela tem que se lhe diga: é que a linguagem dos pedreiros são as imagens e símbolos, são as metáforas e Mitos. E mencionemos, outrossim, um pensador da estirpe de Pierre-Joseph Proudhon ( Besançon, 15/ 01/ 1809 – Paris, 19/ 01/ 1865 ); foi este o primeiro Filósofo a aplicar, a si mesmo, o adjectivo de «anarquista». E eis os factos e os feitos: a 8 de Janeiro de 1847, em Besançon, é iniciado, o pensador, na Loja «Sincérité, Parfaite Union et Constante Amitié», do Grande Oriente da França. E quanto ao floreal, Ferrer não teme nanja, ele não titubeia: ele transforma o tetramorfo tabernáculo em círculo e para este círculo transfere o triângulo. O tetramorfo são as estações, são os quatro elementos, e são, ademais, os quatro querubins de Ezequiel. Como são, na cruz, os quatro pontos cardeais. Consubstanciados, todos eles, no «Tetragrammaton», ou melhor, nas quatro letrinhas, numa hebraica linguagem, do nome «Jeová». E ei-las, alfim: Yod, He, Vau, He. Sendo pois, os quatro naipes, na «Rota» do Tarot, os Paus, as Copas, as Espadas e os Ouros, sendo, das cartas, as figuras, o Rei, a Rainha, o Cavaleiro e o Valete. Averbemos, ainda, além dos quatro Evangelhos, os quatro temperamentos de Hipócrates ( c. 460 – c. 370 a. C. ): o sanguíneo, o colérico, o melancólico e o fleumático. Sendo, para os Pitagóricos, a «Santa Tetraktys», o resultado e a soma da Mónada, ou 1, com o Triângulo ou o trívio, que é o 3, e sendo 1 + 2 + 3 + 4 = 10, que é número sagrado, que é retorno à Unidade, que é a Roda da Fortuna no feérico Tarot. Já para Carl Gustav Jung ( Kesswil, 26/ 07/ 1875 – Kusnacht, 06/ 06/ 1961 ), em «Tipos Psicológicos», ele anuncia, ou enuncia, as quatro funções humanas, como sejam o pensamento, emoção, sensação e intuição. E uma vez que a Matemática é sagrada e martinista, abordaremos, aqui, os conceitos ou informes da Numerologia. Que a Matemática é a Mãe, a Matemática é sagrada, é que «Deus geometriza» segundo Platão ( Atenas, c. 428 a. C. – Atenas, c. 348 a. C. ). Seguindo e segundo o grande, grande Pitágoras ( Samos, c. 570 a. C. – Metaponto, c. 496 a. C. ), ou o áugure pítico, «a Matemática é o alfabeto com o qual Deus escreveu o Universo». Em bíblica «lectio», dirigindo-se, deveras, à Santa Sophia, nós lemos no Livro da Sabedoria: «Tu, porém, regulaste tudo com medida, número e peso.» ( Sb. 11: 20 ). É que os números, como sempre, são os Numes. Pra Pitágoras, «tudo é número.» E no pórtico da Academia platónica, podia-se ler a seguinte inscrição: «Não entra aqui quem não souber geometria.» Se o «Arquitecto», etimologicamente, é o «chefe dos operários», clama, o didacta, por a Rosa maviosa, no centro da Cruz. O Pentecostes, a Quinta-Essência, e o preste Quinto Império. Ou o Éter, deveras, para o solerte Estagirita ( Estagira, 384 a. C. – Atenas, 322 a. C. ). Ou nas palavras, aqui, do nosso Poeta: «Mas a Romã e a Rosa testemunhas são / que comigo vos não importais de partilhar o Sol». Que em numérica cifra, o 3 é sideral, e portanto universal: ele é, no Cristianismo, o Padre, o Filho e o Espírito Santo; ele é, no comento hegeliano, a tese, a antítese e a síntese; são, no razoar de Augusto Comte, os estados teológico, metafísico e depós o positivo; o 3 é, para os Hindus, Brahma, Vishnu e Shiva; para os Alquimistas ele é o enxofre, o mercúrio e o sal, e são, na linha do tempo, o passado, o presente e o futuro. Sendo, para Sigmund Freud, o aparelho psíquico forjado, ou formado, por o Id, o Ego e o Super-Ego. Que o ternário está visível nas várias trilogias da Maçonaria: Liberdade, Igualdade e Fraternidade; Sabedoria, Força e Beleza; Tolerância, Solidariedade e Progresso. Tudo isso através das três virtudes: Fé, Esperança e Caridade. Liberdade, Igualdade e Fraternidade: o criador deste lema foi Étienne de La Boétie ( Sarlat-la-Canéda, 01/ 11/ 1530 – Germignan, 18/ 08/ 1563 ), amigo de Montaigne ( Castelo de Montaigne, 28/ 02/ 1533 – Castelo de Montaigne, 13/ 09/ 1592 ) e colaborador, beletrista, de Michel de l’Hôpital ( Aigueperse, 1506 – Boutigny-sur-Essonne, 13/ 03/ 1573 ). E não esqueçamos, ademais, o egípcio, que é o «gipsy»: Osíris, Ísis e Hórus eles são, na alegoria, uma Alquimia do Verbo. Quero eu aqui dizer: o Pai, que é o 1, se une à Mãe, que é o 2, e o 3 é logo o filho, a criança, a soma, criacionista, do 1 com o 2. Em Numerologia, o 3 é a cifra da criatividade, o 3 é o símbolo da comunicação. O 3 é, como muito bem aduz o feérico Ferrer, o degrau, pitagórico, da celeste perfeição. Correspondendo, o 33, a uma grande, grande Luz, ao grau máximo, dessarte, na Maçonaria, que é ocupado, deveras, por o Soberano Grande Inspector-Geral. Em pitagorismo, o 33 simboliza o alumbramento espiritual, o grande criacionismo e a busca da perfeição. Se caracteriza, no cor, o 33, por a harmonia, o Amor, a feraz fecundidade. O 33, regra geral, é artista em hombridade, ele vive, e labora, para o bem da Humanidade. «Verbi gratia», aqui, deveras e na verve: Maria Azenha, Poetisa Portuguesa e mística, de facto, foi nada em Coimbra, cidade doutora, a 29 de Dezembro de 1945. E somando, então, os dígitos, nós temos, dessarte: 2 + 9 + 1 + 2 + 1 + 9 +4 +5 = 14 + 19 = 33. Ou seja: o 33 é o número kármico da nossa Poetisa. E todos os múltiplos de 3, no Pitagorismo, são concernentes, e atinentes, às Belas-Artes e Belas-Letras. A talho de foice, nasceu em 24 de Janeiro de 1923, em Viana do Castelo, o encenador e o Poeta António Manuel Couto Viana; foi nado, a 18 de Abril de 1842, o Poeta e Filósofo Antero de Quental; nasceu para o Verbo, em 12 de Setembro de 1937, Maria Teresa Rita Lopes, a augusta Pessoana; veio ao mundo, Voltaire, a 21 de Novembro de 1694; e foi nado, para o Espírito, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, a 27 de Agosto de 1770. A 6 de Janeiro de 1949, é nado, no Porto, José Pacheco Pereira; e vê a luz do dia, Pierre Janet, a 30 de Maio de 1859. E 6 + 9 = 15: nasce em 15 de Setembro de 1765 o beletrista, o bargante, o Poeta Bocage; a 15 de Setembro de 1961, é nado, nitente, para uma grande, grande Luz, o Historiador, o Poeta Carlos d’Abreu. Nascendo, em 15 de Setembro de 1850, em Freixo de Espada à Cinta, Abílio Manuel Guerra Junqueiro, o bastião, abençoado, do livre-pensamento. E pra findar com chave de ouro: se nasceu, a 30 de Março de 1844, o Poeta Verlaine, veio ao mundo, o Van Gogh, a 30 de Março de 1853, Artur Cruzeiro Seixas foi nado, para a Luz, a 3 de Dezembro de 1920, e eis a messe, e a missão, de nossos progredimentos. E agora, levemente, «last but not least»: o Padre Manuel Antunes, um dos espíritos mais cultos do século XX português, foi nado, de boamente, na Sertã, a 3 de Novembro de 1918. Dêmos agora, ao Poeta, a voz e a vez: «E o número 3 caracteriza o grau de Aprendiz ( idade de 3 anos; 3 degraus que sobe em direcção ao Oriente; 3 viagens à volta do templo; 3 pontos pelos quais se fazem reconhecer os obreiros; 3 toques; tríplice abraço… ), logo, se no 3 estão contidos todos os números, no grau de Aprendiz estarão contidos os outros graus.» Começando no ministério e acabando no magistério, os graus e os degraus eles são, de feito, 3: o Aprendiz, o Companheiro e o Mestre sagrado. Sendo, esse Magíster, o magnânimo, o Mago e o magnificente. Sendo, essa Magia, a Agricultura Celeste e a Gaia Ciência. Temos visto e hemos de ver: ao contrário do que se crê, os «maçons» não são ateus, nem assassinos, tampouco: eles são, no caroal, os construtores das catedrais. Eles são, deveras, descendentes de Hiram, o construtor, e Arquitecto, do templo salomónico. E se o foro do Vaticano é uma Arte Sacerdotal, apanágio da Maçonaria é portanto uma Arte Magna, ou, melhor dizendo, uma Arte Real. Averbemos, aqui, uma «Arte Régia», de 1987; António Cândido Franco seu feitor, fautor e Autor. E curiosamente, nos «Vasos Comunicantes», Mário Máximo deu a lume, em 1998, a «Arte Real». Nos séculos XX e XXI, António Cândido Franco, Mário Máximo e Carlos d’Abreu – e aqui eis a trindade, eis o trívio sagrado da Poesia Portuguesa. Em lhaneza, agora, de chão plano: meditando, ou matutando, sobre o «Solstício de Inverno», profere, e professa, o fantástico Ferrer: «ou a passagem do passado ao futuro que é um / instante imaginado / era jano celebrado / e solenizado nos dias solsticiais / pelos do grémio construtores / costume e rituais estes herdados / pelos seus pares medievais». E «Jano» está ligado, etimologicamente, ao «mensis Ianuarius», pois sendo o deus dos começos, assinala a passagem de um ano para outro, «e não há luar como o de Janeiro / nem amor como o primeiro». De sublinhar e alçar: no calendário maçónico, ele há, deveras, duas datas festivas: a de São João Baptista, memorada a 24 de Junho, e a de São João Evangelista, assinalada, selectamente, a 27 de Dezembro – e elas correspondem, simbolicamente, ao Solstício de Verão e ao Solstício de Inverno. Prosseguindo, aqui, na feérica faina: o Pentáculo Flamejante é marcado, no centro, por a letra «G». E em maçónica, ou tónica, simbologia, o «G» tem vários significados: «God», «Gnose», «Génio», «Geometria», «Geração», e eis aqui a «Geia», a «Geórgica», a «Gaia Ciência». Voltando, qual Voltaire, à carga: é o Grande Arquitecto do nosso Universo, ele é, no Arcano, o Grande Oriente Lusitano. Que a acácia é a signa, o nome é o símbolo, o número é a senha: nas mãos do «maçon», a pedra peca, tosca e bruta deverá ser tornada na cúbica pedra. E, pra melhor compreendermos a Arte Magna, leiamos, no Antigo Testamento, em I Reis, 7: 21: «Depois, levantou as colunas no pórtico do templo; e, levantando a coluna direita, chamou o seu nome Jaquin; e, levantando a coluna esquerda, chamou o seu nome Boaz.» Se a letra «J», à direita, é a inicial de «João», é, a letra «B», à esquerda, o início de «Baptista». Ou melhor: se a palavra «Jerusalém» começa por um «J», começa, «Belém», por o «Beth» ou o «B». Sendo, o mesmo «B», a inicial, iniciática, de «Bereshit», que significa, em hebraico, «No princípio». É com esta palavra que começa, quer o «Génesis», quer, outrossim, o «Evangelho de São João». O simbolismo de São João é pois o seguinte: com Jesus se dá uma nova Criação, que nos faz nascer, deveras, como filhos de Deus. E «Beth» é, outrossim, a letra primeira da palavra «Baruch», que significa, no hebraico, «abençoado». Sendo «Belém», etimologicamente, no hebraico «Bethlehem», a «Casa do Pão». E quem dá o Pão, dá, deveras, a edule educação. Uma nótula, aqui, de natura enciclopédica: Erasmo substitui «In principio erat Verbum» por «In principio erat sermo». Me seja permitido o à parte seguinte: eu escrevo em Portugal, que é o Porto do Graal, e a Lusitânia, por isso, é uma citânia de Luz. E três Presidentes da Primeira República, como sejam Bernardino Machado ( Rio de Janeiro, 28/ 03/ 1851 – Porto, 29/ 04/ 1944 ), Sidónio Pais ( Matriz, Caminha, 01/ 05/ 1872 – Lisboa, 14/ 12/ 1918 ) e António José de Almeida ( Vale da Vinha, 27/ 07/ 1866 – Lisboa, 31/ 10/ 1929 ), pertenciam, adrede, à Ordem Maçónica. Sidónio Pais foi barbaramente assassinado, na Estação do Rossio, por José Júlio da Costa. Indo, no tempo, mais atrás, a Revolução Liberal de 1820, ou seja, o Vintismo, tem o seu «fons et origo» na Loja Sinédrio, fundada no Porto, em 22 de Fevereiro de 1818. E graças, no lance, ao Liberalismo, foi só a 31 de Março de 1821 que as Cortes Constituintes decretaram a extinção da Inquisição, quero eu dizer, do Tribunal do Santo Ofício. E mais, ainda mais: a 7 de Setembro de 1822, deve o Brasil, sua independência, a D. Pedro IV, o Mestre Maçon ( Palácio de Queluz, 12/ 10/ 1798 – Palácio de Queluz, 24/ 09/ 1834 ). Cognominado, na História, «o Rei Soldado» ou «o Libertador». Sendo obra, outrossim, dos Mestres Pedreiros, a liberação, lilial, da escravatura. Nesse dia 7 de Setembro, D. Pedro, junto ao riacho do Ipiranga, ao saber que a Corte Portuguesa programara uma acção militar contra o Brasil, profere, ferino, o seu grito: «Independência ou morte!» E daí a expressão, que se tornou proverbial, «dar o grito de Ipiranga». Politicamente, e historicamente: com o nome de Guatimozin, último Imperador Asteca morto em 1522, a 2 de Agosto de 1822 é iniciado, na Loja Comércio e Artes, o Príncipe Regente; 3 dias depós, a 5 de Agosto, é aprovada a sua elevação ao Grau de Mestre Maçon, o que possibilitou, a 4 de Outubro de 1822, ele ser eleito e empossado no múnus de Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, na qualidade de substituto de José Bonifácio; esta a hombridade, e a histórica verdade. Em parentético escólio, D. Pedro IV é associado, selectamente, ao simbolismo do 3: é que ele foi nado, no Palácio de Queluz, a 12 de Outubro de 1798, e 3 x 4 = 12. Manifestação, liberal, do Espírito Absoluto, é, em 4 de Julho de 1776, a independência, a aurora, o arrebol, dos Estados Unidos da América. Sendo aqui, irmãos pedreiros, Thomas Jefferson ( Shadwell, Virginia, 13/ 04/ 1743 – Charlottesville, Virginia, 04/ 07/ 1826 ), George Washington (Popes Creek, 22/ 02/ 1732 – Mount Vernon, 14/ 12/ 1799 ), e, de facto, o Benjamin Franklin ( Boston, 17/ 01/ 1706 – Filadélfia, 17/ 04/ 1790 )… Este último experto na polimatia, este último um espírito veramente enciclopédico. Ingressando no Templo apoiado no braço de Benjamin Franklin ( ele era, na altura, embaixador em França dos Estados Unidos ), iniciado foi Voltaire, a 7 de Abril de 1778, na Loja, parisina, «Les Neuf Soeurs». Na hora, figadal, do seu desencarne, aos 30 de Maio de 1778, recebe, o filósofo, a visita de Franklin, que trazia, consigo, o neto, pela mão. Pedindo a Voltaire que abençoasse a criança, assevera o patriarca, pousando então a mão sobre a sua cabeça: «Deus e Liberdade». E coligimos, no «quid», e trazemos, aqui, à colação: o Grande Selo dos Estados Unidos da América, impresso e expresso nas notas de 1 dólar, contém, deveras, vários símbolos maçónicos, tais como o desenho da pirâmide oculta da Maçonaria e cujo vértice é o olho da Providência, o olho que tudo vê. E prosseguindo, no feito e na freima, quando falamos da Maçonaria, não mencionamos uma «doxa», mas antes, e sobretudo, uma «práxis». Se a «doxa», então, são os juízos e as ideias aceites e acatados por uma maioria, a «práxis» é a acção, é a acção ordenada para um fito e um fim. A «práxis» é, na Obra marxiana, o conjunto de práticas que permitem ao homem o transformar o mundo. «Verbi gratia», em «Teses Sobre Feuerbach», mais particularmente na Tese XI, não basta, ao filósofo, interpretar o mundo, é preciso, doravante, transformá-lo. «Mudar a vida», de Rimbaud ( Charleville, 20/ 10/ 1854 – Marselha, 10/ 11/ 1891 ), e o «transmudar o mundo»: para o feérico Ferrer, estas duas palavras de ordem são apenas uma só. E por isso ele é flamante, ele é prolixo, dessarte, até à pletora. E é aqui que se adunam, os livres-pensadores, com os anarco-comunistas, e eis aqui Voltaire e a vasta Enciclopédia. Se os livros, deveras, são os livres, falaremos, então, de uma «ortopráxis maçónica»: eis a «prática correcta», a escorreita, no feito, e a recta rectidão. O ver, em cada mação, o livre-pensador e o Filho da Viúva. Sempre em busca, o companheiro, da Palavra Perdida. Do Reino de Deus afiliado na Terra. E se a alegoria é prática outra, e se o inconsciente ele é, na verve, o discurso do Outro, nós visamos a acracia, divisamos, em Ferrer, uma heterodoxia. Porquanto ele escreveu, numa estética tese: «Ora, harmonizar em mim ortopraxis com ortodoxia, não será tarefa fácil.» Erro crasso é escrever a seguinte calinada: que Voltaire era ateu, e materialeiro. Em vez disso, ó didacta, ele professava o deísmo. A prová-lo, ó ledor, está o dístico seguinte: «L’univers m’embarrasse, et je ne puis songer / Que cette horloge existe et n’ai pas d’horloger». Ou melhor: a lei moral é autónoma, ou então autoritária. E concordamos, caroal, com o feraz Sampaio Bruno ( Porto, 30/ 11/ 1857 – Porto, 11/ 11/ 1915 ), que foi o firme fundador da Filosofia Portuguesa: se se regiam, os tempos de outrora, por a letal autoridade, é tempo agora, pra nós outros, da solerte Liberdade. Como vemos, por a sua data natal, o Autor de «A Ideia de Deus» é plasmado, marcado por o número 3. E diz e aduz o Pinharanda Gomes ( Quadrazais, Riba-Côa, 16/ 07/ 1939 – Loures, 27/ 07/ 2019 ): não é tradição, em Portugal, o ignorar, ou verrinar, o nome de Deus: isso equivale, ó ledor, isso equivale a um acto de analfabetismo. Concordamos, deveras, com o arguto Francis Bacon ( The Strand, Londres, 22/ 01/ 1561 – Highgate, 09/ 04/ 1626 ): se um pouco de Filosofia conduz o homem ao ateísmo, o leva, a muita Filosofia, a acreditar, perene, em Deus. O feraz, luciferino Fernando Pessoa ( Lisboa, 13/ 06/ 1888 - Lisboa, 30/ 11/ 1935) é Autor, curial, do comento seguinte: as palavras, e as lições, do Novo Testamento, a serem tomadas, deveras, à letra, são elas, francamente, simplesmente anarquistas. Como está consignado nos «Actos dos Apóstolos», o comunitarismo, ou a comunhão de bens, eram apanágio dos primeiros cristãos. Que afirma, deveras, infere e afiança o Santo Agostinho ( Tagaste, Numídia, 13/ 11/ 354 – Hipona, Numídia, 28/ 08/ 430 ): «Nenhum cristão deve ser mercador.» São Basílio de Cesareia ( 329 – 379 ), afamado e estimado Doutor da Igreja, vai mesmo ao ponto de asseverar: «O dinheiro é o esterco do Diabo.» Veja-se em Act. 2: 44, 45: «Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um.» Cotejemos, agora, com Karl Marx ( Trier, Alemanha, 05/ 05/ 1818 – Londres, 14/ 03/ 1883 ), in «Crítica ao Programa de Gotha»: «De cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades.» E, como se vê, a diferença não é muita. E como infere o Autor do «Dicionário Filosófico»: «Quando se trata de dinheiro, todos professam a mesma religião.» Ora isso plasma, em termos marxistas, o feiticismo, ou fetichismo, da mercante mercadoria. Num edital datado de 24 de Setembro de 1770, o referido Dicionário é mandado queimar, na Praça do Comércio, por o Marquês de Pombal ( Lisboa, 13/ 05/ 1699 – Pombal, 08/ 05/ 1782 ), e eis a pena, percuciente, da despótica Polícia. E diga-se, aqui, a vera verdade: no tempo em que vicejou o Poeta Bocage ( Setúbal, 15/ 09/ 1765 – Lisboa, 21/ 12/ 1805 ), o Grande Inquisidor ele era, no lance, Diogo Inácio de Pina Manique ( Lisboa, Santa Catarina, 03/ 10/ 1733 – Lisboa, Anjos, 01/ 07/ 1805 ), e eram, suas «moscas», o terror e o castigo dos infrenes jacobinos. E avante vamos na vitória. O fim do livrinho do fantástico Ferrer é sagrado, e consagrado, ao símbolo da Romã. Invertendo, do sintagma, as letras, nós ficamos com «Amor». E, tirando o til ficamos nós, rapsodo, com «Roma». Ou, se preferirmos, com «Ramo». Não alembras, ó ledor, «O Ramo de Ouro», «The Golden Bough», por James George Frazer ( Glasgow, Escócia, 01/ 01/ 1854 – Cambridge, Inglaterra, 07/ 05/ 1941 ) ? Acatando, na cita, Miriam Assor, a Romã é o «símbolo da unidade entre os maçons, separados na sua individualidade e personalidade mas unidos por um ideal comum.» Atributo de Hera e de Afrodite, na antiga Grécia, a romã é um símbolo de fecundidade, de numerosa e copiosa posteridade. E os sacerdotes de Deméter, em Elêusis, no decurso dos Mistérios, coroavam-se, deveras, de ramos de romãzeira. Designando essa romã, na lírica Poesia, as pomas da mulher. E trago, à colação, duas adivinhas: «Sou rainha, com orgulho, / A dizê-lo não me escuso; / E a prova do que afirmo / Está na coroa que uso.» Ou estoutra, inda mais bela: «Às direitas, sou cidade; / Às avessas, sentimento; / Sou fruta bem saborosa, / Com um til por acrescento.» Mas citemos, feérico, o Ferrer, é dele, dessarte, a voz e a vez: «Estamos então na presença da ROMÃ! Fruto da romãzeira, árvore de pequeno porte, quase arbustiva, com a designação científica de «Punica Granatum» atribuída pelo famoso botânico alemão Lineo, pertence à família das Punicáceas e é cultivada desde a Antiguidade, sendo originária da Pérsia, encontrando-se na actualidade distribuída por todo o Mediterrâneo e um pouco pelo Mundo.» Continua o Poeta, socorrendo-se, agora, da Filologia: «romã» deriva da língua árabe «ruman» e é conhecida, no nosso Portugal, por «romeira», «milagreira», «milgranada» ou «milgrada», e, no Douro Transmontano, por «amerigada», cuja casca é usada, em infusão, qual remédio para a «soltura». Para signarem a romã, dizem, os castelhanos, «granado», nominam, os franceses, «grenadier», falam, os ingleses, «pomegranate», os italianos, «melograno», os galegos, «miligrandeira» e os tudescos, alfim, «granatapfel». Provindo, o «granatum», da grande quantidade, da abundância de grãos. A cópia, por isso, das suas sementes a liga à fecundidade, à celebração da vida, à abundância forte e fértil. Sendo a Roma a sideral. Sendo, a «romãzeira», o anagrama de «amorzeira». Que ela medra, ela cresce, para o Islame, nos jardins do Paraíso. Por Magia simpática, na Índia, as mulheres casadas bebem o seu sumo, assegurando, assim, a feraz fertilidade. E em rito lilial do povo português, é manducada, a romã, na festa da consoada e, também, no Dia de Reis, são os votos, bem-querentes, da prosperidade, do feliz Ano Novo. E como os arcanos são veramente universais, mencionemos as Artes Plásticas: de Sandro Botticelli, «Nossa Senhora da Romã», e, de Leonardo da Vinci, «Nossa Senhora e o Menino com uma Romã». E «last but not least», o simbolismo maçónico: cada uma das colunas do Templo iniciático ( quero eu dizer, a Jaquin e a Boaz ), é encimada, selectamente, por um conjunto de três romãs. Querem, os Iniciados, re-apresentar: se a romã mantém unidos os seus multíplices grãos, mantém coesos, a «ecclesia», os seus muitos maçons. É tempo, agora, de findar. Por Pessoa nós sabemos que a Tradição Secreta do Cristianismo tem íntimas relações com a Santa Kabbalah, com a oculta essência da Maçonaria. E para António Arnaut, que já citámos, «não há nenhuma incompatibilidade entre a fé católica e a Maçonaria. Jesus Cristo teria sido iniciado nos Mistérios Essénios, que são uma das raízes ancestrais da Maçonaria.» Da Maçonaria ligada, em Portugal, à Ordem da Milícia dos Cavaleiros do Templo. Que é tempo, agora mesmo, da evolução. É tempo, assim o queremos, da Revolução.
Tomar, 06/ 04/ 2023
SPES MESSIS IN SEMINE
CENTRO DE LITERATURA E FILOSOFIA COMPARADAS
PAULO JORGE BRITO E ABREU