UNIVERSO TÉLMICO. 17
CARTAS DE AGOSTINHO DA SILVA PARA RUY VENTURA. 02
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[carimbo do correio – Lisboa, 24.5.1993; ficha bibliográfica]
22.5.93
Caro Amigo
O que escrevo é de todos – e esteja por e para tal inteiramente à vontade (4). Seu texto perfeito, e muito grato pela transcrição (5). A comunidade certa para Portugal tem agora início da parte do Brasil, que aqui delegou no Embaixador José Aparecido de Oliveira, e que é ainda imaginação dos do culto [do] Espírito [Santo] que passaram às Américas no [século] XVI. Comunidade dos Povos da Língua Portuguesa. Um dia iremos mais em frente e seremos uma Comunidade Mundial dos Povos de Línguas Ibéricas. Pense só na extensão disto. Veja só quanto mundo. Das Baleares a Timor, apesar de qualquer sentença contra Xanana (6). Capital? Cada um a tenha dentro de si – e, no mapa, a adore como lhe for próprio, em todos os aspectos do concreto e do transcendente.
Afectuosamente do A.
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Notas de Ruy Ventura:
(4) Esta primeira frase diz respeito ao pedido de autorização que lhe dirigira para reproduzir um texto seu numa revista cultural (ou “fanzine”) que estava concebendo, com António de Oliveira Cavaco (hoje professor em Castelo Branco), na Escola Superior de Educação de Portalegre, onde éramos ambos alunos. Chamar-se-ia A Mosca. Motivos que não vêm agora ao caso impediram no entanto a sua saída.
(5) Agostinho da Silva agradece aqui um texto de opinião que publiquei no jornal Correio Beirão, de Moimenta da Beira, por essa data, no qual transcrevia excertos de um ensaio seu (se a memória não me atraiçoa). Fui levado a colaborar nesse periódico beirão pelo poeta Orlando Neves, que então também dirigia a revista cultural Sol XXI, onde editei alguns dos meus primeiros poemas.
(6) Xanana Gusmão estava, na altura, preso numa cadeia indonésia como prisioneiro político. Depois da independência de Timor-Leste foi presidente da república e primeiro-ministro deste jovem país.