UNIVERSO TÉLMICO. 04
CORRESPONDÊNCIA DE ÁLVARO RIBEIRO PARA RAFAEL MONTEIRO. 01
Lisboa, 27 de Dezembro de 1965
Exmo. Sr. Rafael Monteiro e
Prezado Confrade nas Letras:
Motivada é esta carta pela obrigação normal de lhe agradecer, quanto antes, a bela amabilidade das suas notícias e a gentil oferenda de um livro. Nesta fase última da minha vida sou pouco dado à epistolografia, mas perante factos de significação e valor, como o da sua missiva, não posso deixar de reagir com gratidão.
Folguei deveras com o anúncio de que o Rafael Monteiro vai elaborar, e concluir, um estudo sério sobre uma nova hipótese acerca da origem do fado, e queira Deus dar-lhe perseverança para cumprir tal dever, neste triste país onde é constante a elegia do não vale a pena. Se me expediu tão boa notícia, considerou também o meu exemplo de homem que persiste e não desiste, enquanto os outros se lamentam e desculpam.
Creio verosímil a sua hipótese acerca da origem e da essência do fado, com a correcção do dizer semita onde diz hebraico. A influência arábica foi poderosíssima na Península Ibérica, e também a fenícia…
O meu velho estudo sobre o fado foi um escrito de circunstância que não poderá ser útil ao trabalho do Rafael Monteiro. Quem lhe deu a informação nunca leu o texto, e errou se não mentiu. No entanto, como se trata de escrito publicado, gostosamente envio uma cópia. No mesmo semanário colaborou José Régio com um poema que reproduziu no respectivo livro. Convém não ignorar que também escreveram fados Afonso Lopes Vieira e António Botto.
Envio-lhe os “Parabéns”, ou o “Deus queira” (Oxalá) de bom augúrio e incitamento para o seu estudo. Com os melhores agradecimentos pela sua gentileza, subscrevo também os votos de Boas Festas e de Feliz Ano Novo de quem lhe manifesta tão sincera estima intelectual.
Álvaro Ribeiro