NO PASSADO SÁBADO, NO AUDITÓRIO DO JORNAL «RAIO DE LUZ», EM SAMPAIO, SESIMBRA: UMA TARDE DE GALA AGOSTINIANA

06-07-2015 09:01

Com mais de meia centena de pessoas na assistência, a primeira sessão do ciclo de palestras Agostinho Revisitado: Novas Aproximações, que o Projecto António Telmo. Vida e Obra promove em parceria com o jornal sesimbrense Raio de Luz, este ano a comemorar o seu quadragésimo aniversário, foi um êxito! No amplo e moderno auditório do Centro de Estudos Culturais e de Acção Social Raio de Luz, em Sampaio, Sesimbra, a tarde do passado sábado começou com a apresentação do primeiro número da DEVIR - Revista de Cultura Ibero-Americana, que se inspira expressamente no ideário de Agostinho da Silva, tal como Pedro Martins sublinhou, lembrando a derradeira entrevista de imprensa de Agostinho, precisamente concedida ao Raio de Luz, em Setembro de 1993, e cujo título reproduz uma frase do filósofo: A Península Ibérica deveria ser o guia do mundo! Depois, Miguel Real dedicou particular atenção à secção de artes visuais da DEVIR, privilegiando um abordagem filosófica ao portfolio do fotógrafo David Infante, veículo de uma arte que expressa as preocupações dos homens e mulheres dos nossos dias. Ruy Ventura, que com Nuno Matos Duarte dirige a DEVIR, situou a revista face ao pensamento ibero-americano de Agostinho e face à própria filosofia portuguesa, retomando assim, tal como Pedro Martins o havia já feito, uma das linhas de abordagem que a sessão de lançamento da DEVIR, a 23 de Junho, na Livraria Barata, em Lisboa, suscitara. Frisando a abrangência do projecto, e afirmando que a sua concretização constituíu uma resposta ao desafio que Agostinho da Silva, de alguma forma, lhe lançara em carta, Ruy Ventura antecipou ainda muito do que se poderá encontrar no próximo número da publicação, que está já ser preparado. Por fim, Nuno Matos Duarte deu a conhecer as linhas programáticas da DEVIR no campo das artes visuais.

  

Seguiram-se as três palestras programadas, com o escritor e jornalista Fernando Dacosta, membro do nosso Projecto que se tornou amigo e convivente de Agostinho da Silva logo que este regressou do Brasil em 1969, a expor aspectos cruciais do pensamento agostiniano no domínio da Lusofonia e da ambicionada comunidade de povos ibero-americanos, em contraponto às linhas de força geoestratégicas que movem o mundo de hoje. Numa intervenção privilegiada pela invocação dos seus testemunhos pessoais, e bastante crítica do actual estado de coisas do país e do mundo, Dacosta enfatizou o lugar cimeiro de Fernando Pessoa, Agostinho da Silva e Natália Correia na filosofia portuguesa do século XX. 

Depois, Miguel Real, tomando como ponto de partida uma passagem da entrevista de Agostinho ao Raio de Luz, falou do lugar e do estatuto que a criança detém no pensamento, na obra e na acção do filósofo, mormente dos aspectos pedagógicos da questão e da dimensão política, simbólica e messiânica de que se reveste a coroação do Menino Imperador na Festa cultual do Espírito Santo, em Portugal e no Brasil, algo que Agostinho presenciou e em que se insipirou.

Por último, Pedro Martins apresentou uma nova proposta de leitura do livro Um Fernando Pessoa, de Agostinho da Silva, pela qual se entrevê nos três heterónimos maiores, Reis, Caeiro e Campos, e no feixe de circunstâncias, características e ideias que naquele livro os envolvem, uma prefiguração do próprio Agostinho. Lembrando, na linha de Álvaro Ribeiro, ser Um Fernando Pessoa menos um estudo literário do que um pretexto e um veículo para a expressão da profecia e da re-criação mitológica que, na senda de Pessoa, enformam o pensamento agostiniano, Pedro Martins considerou poder Agostinho ser visto como um supra-Pessoa, por não lhe ter faltado o que ao ortónimo e aos três heterónimos, segundo ele, faltara: a coragem prática de agir.

A sessão terminou com um apontamento musical pelo Grupo de Cantares Etnográficos da Freguesia do Castelo, a que se seguiu um moscatel de honra.