INÉDITOS. 88
Leonardo Coimbra, filósofo exemplar[1]
A ideia de uma queda no Divino, explícita em Sampaio Bruno, Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa, restaurada por José Marinho com a noção de cisão em Deus, oculta ainda em Álvaro Ribeiro, mas exigida por quem queira ter uma compreensão lúcida do seu pensamento, mostra que a “gnose”, após quatrocentos anos de latência ou adormecimento, volta a ressurgir na poesia e na filosofia portuguesas como o sinal irrecusável da nossa visão do mundo. Uma única, enigmática excepção: Leonardo Coimbra. O espontâneo sentido da beleza da Criação e da presença nela do Divino, uma grande generosidade que o atraía para a ideia de que o Divino é no encontro fraterno das mónadas, mais do que um Ser é uma Relação, levaram Leonardo Coimbra a desviar de seus pares, mas, porque lhe era impossível perdê-los de vista, concebeu, no cruzamento do catolicismo com a gnose, uma das mais difíceis filosofias, cujo segredo não será nunca suficientemente interrogado.
Leonardo Coimbra é o nosso filósofo exemplar.
António Telmo