INÉDITOS. 79
Da heresia*
Há que distinguir a “heresia” que significa escolha e é, portanto, uma forma de liberdade conciliável com a ortodoxia, de “luciferismo” em que a luz que o espírito conduz se afirma como autosubsistente. A filosofia portuguesa não é luciferina nem satanista, porque tem como princípio a ideia de Deus. Não é satanista porque não consagra nem diviniza o sensível, separando-o do seu princípio espiritual.
É muito difícil não haver “escolha” num povo servido por três tradições. Dizer, por exemplo, que Cristo foi um profeta, se é herético do ponto de vista católico, não o é do ponto islâmico. Do ponto de vista hebraico, isto é, do Velho Testamento, não se põe esse problema, que é posterior ao estabelecimento da Tradição. A filosofia portuguesa tende a ver no cristianismo um aperfeiçoamento do mosaísmo e não uma nova religião diferente ou oposta à primeira.
António Telmo
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* Título da responsabilidade do editor.