INÉDITOS. 54
Pessoa e Camões[1]
Fernando Pessoa escreveu de Luís de Camões, que almejou superar, ser ele mais «italiano» do que português, isto apesar de ter criado Os Lusíadas que são, com a Mensagem, os poemas heroicos da nossa raça. Está à vista que tinha em mente a estreita relação do poeta lírico com os poetas italianos de Dante até Petrarca, que ele terá imitado e até traduzido dando as traduções como se fossem originais.
Fernando Pessoa segue aqui um critério académico indigno do seu alto e soberano espírito. Não colhe no entanto o eco de uma corrente subterrânea que, desde a poesia trovadoresca vem fluindo até Camões e que se afunda mais a partir de D. João III para ressurgir nos poetas da filosofia portuguesa e nos filósofos de razão poética de Sampaio Bruno até Pedro Sinde e até, mais proximamente, Pedro Martins.
Dizê-la subterrânea é metáfora. Não se confunda com subconsciência mas sim com supraconsciência.
Se Fernando Pessoa tivesse conhecido o grande Comentário de Manuel de Faria e Sousa às Rimas de Luís de Camões não teria decerto afirmado, com algum desdém, ser o autor d’Os Lusíadas um poeta italiano, por isso uma cópia em Portugal de Petrarca ou de Bernardo de Tasso.
Teria sem dúvida visto que a corrente espiritual que em Itália recebeu o nome de Fideli d’Amore, vem directamente da poesia trovadoresca medieval e isto por tal modo que Camões está tão perto de D. Dinis como de Dante, ambos bem activos na transformação da Ordem do Templo, aparentemente extinta, na Ordem de Cristo e na Ordem da Fé Santa, uma e outra criações dos Rosacruz abalados nas Caravelas para o longe inatingível, onde ficaram até hoje ignorados dos homens-demónios que passaram a governar nas esferas menores onde habita a dor e o cisma.
António Telmo
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[1] Título da responsabilidade do editor.