INÉDITOS. 21
Três seres distintos em mim[1]
30 de Outubro de 1977
Três seres distintos em mim. Seres ou formas: o Tó (ainda hoje alguns vêem em mim a criança e esta imagem que de mim fazem também ainda muitas vezes me identifico com ela); o António Telmo (meu nome literário e suporte do meu “centro magnético”; é completamente diferente do Tó), o António Vitorino (meu nome hereditário, que estabelece imediatamente uma relação com a família e a hereditariedade); e outros muitos de que tenho uma vaga consciência ou um vago sentimento. Há uma imagem criada na relação com o sexo; outra, que não é exactamente o António Telmo, relacionada com o “ocultismo”; outras que nascem conforme a situação em que me encontro: o professor, o convivente de café; o desportista; etc…
Sinto-me como os outros me pensam ou como sinto que os outros me pensam. Quando estou com o Rafael não sou o mesmo de quando estou com o Reis Marques ou o Francisco ou o Patrício ou os meus filhos ou a minha mulher.
No domínio do pensamento, divido-me entre o católico para quem o mundo é o que é e o maçon para quem há que fazer o mundo. Entre Leonardo Coimbra e Sampaio Bruno?
Como sair desta embrulhada? [António Telmo desenhou em seguida, nesta mesma linha, um delta, com um G inscrito ao centro, seguido de um ponto de interrogação]
António Telmo