EM MAIO, NAS TARDES TÉLMICAS, AS "EXPLOSÕES EM SESIMBRA": AGOSTINHO, DO COLOSSO AO MARRANO
Agostinho da Silva e Herberto Helder ilustram uma Teoria do Marranismo, desenvolvida e aplicada a partir do que António Telmo nos deixou sugerido. No caso de Agostinho, não houve sequer a preocupação de lhe averiguar a ascendência hebraica. O judaísmo não é questão étnica, mas cultual – e cultural. Quanto mais lemos “O que é um judeu”, ensaio que Moisés Espírito Santo fez publicar com a reedição, de 1993, de Os Cristãos-Novos em Portugal no Século XX, de Samuel Schwarz, mais nos convencemos das fortes marcas culturais judaicas patentes na vida, na obra e no pensamento agostinianos, pautados sobremaneira pelo sentido da liberdade e pela forte autonomia individual, pelo estro da inovação e pela criatividade teológica, filosófica e científica, pela errância do andarilho e pelo gosto do trabalho – apesar de Agostinho repetidamente proclamar que o homem não nasceu para trabalhar, o trabalho foi nele contínua, ininterrupta criação…
Quanto a Herberto, de consabida progénie judaica, a descoberta (posterior à conclusão do ensaio que neste livro lhe consagro) de um inédito de Telmo, entretanto publicado em A Terra Prometida, em que o filósofo justifica o surrealismo de Natália Correia pela cristã-nova que nela entrevê, mais me convenceu da razoabilidade da leitura marrana que proponho para o agnosticismo d’Os Passos em Volta.
Pedro Martins, in Um António Telmo: Marranismo, Kabbalah e Maçonaria
A apresentação de O Estranhíssimo Colosso - Uma Biografia de Agostinho da Silva, de António Cândido Franco, no próximo dia 9 de Maio, na Biblioteca Municipal de Sesimbra, marca o começo das Tardes Télmicas deste ano, numa parceria do nosso projecto com a Câmara Municipal de Sesimbra. A apresentação da obra será feita por Pedro Martins, numa sessão que contará, evidentemente, com a presença do autor. António Cândido Franco, para além do muito que terá para nos dizer de Agostinho e das suas "explosões em Sesimbra", apresentará ainda o mais recente número da A IDEIA, revista de cultura libertária por si dirigida, com um inédito de Agostinho da SIlva sobre um livro perdido de António Telmo, bem como um escrito inédito deste e as cartas que Fiama Hasse Pais Brandão lhe escreveu, transcritas e comentadas por António Carlos Carvalho. Três semanas depois, a 30, será a vez de ser lançado, com a chancela da Zéfiro, Um António Telmo: Marranismo, Kabbalah e Maçonaria, de Pedro Martins, título inaugural da colecção Thomé Nathanael. A apresentação estará a cargo de António Carlos Carvalho e Miguel Real, numa sessão que abre com a palestra que o Professor Moisés Espírito Santo irá proferir sobre o marranismo, sendo que Alexandre Teixeira Mendes fará, nesta mesma linha, uma evocação de Artur Barros Basto. O ensaio de abertura de Um António Telmo, "Agostinho da Silva, o marrano do Divino", que é um livro dentro de outro livro, oferece uma nova perspectiva da vida, da obra e do pensamento de Agostinho, que assim volta a marcar presença nas Tardes Télmicas e na capital da Arrábida, terra que, como poucas, o pode chamar seu.