EDITORIAL. 32

02-05-2024 00:00

Uma inspiração constante

 

A personagem do Filósofo (à direita, na foto), consulente do oráculo Ouroborus, que domina o I Acto da ópera 1976, A Evolução dos Cravos, que, com libreto de Risoleta C. Pinto Pedro e música de Vítor Rua, estreou no Fórum Luísa Todi, em Setúbal, nos passados dias 12, 13 e 14 de Abril, inspira-se directa e notoriamente em António Telmo e no episódio da sua ida ao astrólogo e quirólogo Hórus, em 1965.

Depois de ter já passado igualmente pela Casa da Música Jorge Peixinho, no Montijo, uma semana depois, no dia 19 do mês transacto, 1976, A Evolução dos Cravos subirá ainda ao palco do Grande Auditório Francisca Abreu do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, no próximo dia 18 de Maio, às 21:30, no âmbito do V Festival de Canto Lírico de Guimarães. Na ocasião, pouco antes do início do espectáculo, Pedro Martins apresentará o libreto da ópera, que será então lançado.

Dois dias antes, a 16, na Escola de Medicina Tradicional Chinesa, o mesmo Pedro Martins irá lançar, com a chancela da Zéfiro e o selo da Colecção Nova águia, o seu mais recente livro, A Heresia Portuguesa – Da Inquisição à Revolução: o país subterrâneo, em que, de uma perspectiva diacrónica que não pode deixar de evocar a História Secreta de Portugal de António Telmo, propõe novas leituras hermenêuticas de Camões, Rodrigues Lobo, a Academia dos Singulares, António José da Silva, Pascoaes, Agostinho da Silva e Álvaro Ribeiro e considera que só com o 25 de Abril de 19i74 se estabeleceu em definitivo entre nós o livre-pensamento religioso.

Dois exemplos que revelam como, a três anos do centenário do seu nascimento, António Telmo, sobre ser uma inspiração constante - ou o eixo da roda, como dele dizia Rafael Monteiro -, se constitui ainda, pelo legado da sua vida, da sua obra e do seu pensamento, como uma referência tão imprevista como significativa da Liberdade que a Revolução dos Cravos, de que agora se comemorou meio século, veio trazer aos Portugueses.