EDITORIAL. 17
Um coração aventuroso
Faz hoje oito anos que António Telmo partiu para a grande viagem. Procuramos continuar a honrar a sua memória, que sobretudo se nos impõe pela presença discreta, mas soberana, das palavras que o filósofo escreveu, cumprindo sempre o imperativo ético de uma sobriedade que, sem concessões, se impõe pela dedicação constante ao que mais importa. Mas seguindo sempre a estrela que lhe iluminava o caminho do seu coração aventuroso, para aqui se sugerir a obra de um dos escritores que ele mais admirava: Ernst Jünger.
Quase toda a sua obra publicada em vida, a par de um número apreciável de escritos deixados inéditos, se encontra hoje na maioria das livrarias de Portugal. Mas o espólio do filósofo da razão poética continua a reservar-nos surpresas. É o caso dos Diálogos do Mês de Outubro, um livro inacabado, mas que irá surgir reconstituído, de modo a aproximá-lo, tanto quanto possível, do esplendor que nele se vislumbra, em Capelas Imperfeitas, o Volume X das suas Obras Completas, uma recolha de inéditos e dispersos que sairá a lume, no final do ano em curso, com a proverbial chancela da Zéfiro, pela mão entusiasta e competente do editor Alexandre Gabriel. Antes disso, um significativo excerto será dado à estampa no número 22 da revista NOVA ÁGUIA, proficientemente dirigida por Renato Epifânio.
Que se saiba, os Diálogos do Mês de Outubro, compostos na década de 80 para uma versão prematura de Filosofia e Kabbalah, representam a primeira grande tentativa do filósofo de desenvolver o diálogo como modalidade de escrita, num ensejo de que só nos últimos anos da sua criação literária viriam os seus leitores a colher frutos dos mais sedutores. É, também, uma revisitação, por questionamento, esclarecimento e aprofundamento, dos problemas e dos temas, das teses e dos teoremas já estabelecidos em livros anteriores, numa sorte de polifónico drama estático em que se cruzam as vozes de Leonardo/Eudoro, Álvaro e Marinho.
Como nota final, uma palavra de imensa gratidão para a família de António Telmo, e em particular para Maria Antónia Vitorino, dedicada e incansável zeladora do seu legado que faz com que tudo seja possível.