EDITORIAL. 16
Luz e apogeu
Nesta data, há quatro anos, sob o signo solsticial, com a luz no seu apogeu, a editora Zéfiro, com o apoio institucional e científico do nosso Projecto, iniciava a publicação das Obras Completas de António Telmo. Ontem, no Museu Maçónico Português, foi lançado aquele que é já o nono volume desta colecção. Perante uma casa cheia, tornou-se notório que o filósofo da razão poética vai granjeando o surgimento de novos leitores. Porque nove e novo são palavras estreitamente aparentadas, será de crer que a hora seja de irradiação e descoberta. Mesmo que alguém só muito dificilmente seja profeta na sua própria terra, a obra daquele que os maçons espanhóis põem ao lado de René Guénon, Joseph de Maistre ou Pascoal Martins, e que um notável poeta brasileiro, Ângelo Monteiro, próximo do grande Suassuna, já pusera a par de Ibn Arabî, pode justamente reclamar uma atenção que não se quadra com os limites de um quintal, mesmo que este nos surja como um jardim plantado à beira-mar. A esta luz, editar a sua opera omnia pode infundir a sensação do cumprimento de um dever. Mas isso será bem pouco, quando o entusiasmo não prescinde sequer, na justa medida, de um módico de loucura. Porque António Telmo veio muito antes do seu tempo. E, tal como o homem da fita encarnada que misteriosamente o visitou em Estremoz antes de ser elevado ao grau de mestre, a sua casa tem o mundo por lugar.