EDITORIAL. 03

18-03-2015 14:30

Justa medida

Miguel Bruno Duarte, no seu blogue Liceu Aristotélico, página que, ao invés do que a sua denominação faria supor, se tem brilhantemente distinguido pela difusão, entre nós, das artes marciais (o facto pode parecer insólito, mas, dado o implícito diapasão alvarino, recordamos que já Álvaro Ribeiro, em carta a António Telmo, considerava que à revista Escola Formal melhor caberia a designação de Quartel General), Miguel Bruno Duarte, escrevíamos, publica no seu blogue o artigo “Agostinho da Silva: biografia falhada”, da autoria de António Araújo, crítico de livros, constitucionalista e consultor do Presidente da República, que nesse seu escrito ajuíza sobre o livro O Estranhíssimo Colosso: uma biografia de Agostinho da Silva, da autoria de António Cândido Franco, membro fundador, para nosso júbilo, do Projecto António Telmo. Vida e Obra.

O referido Miguel Bruno Duarte faz, porém, preceder a publicação do escrito de Araújo do seguinte introito:

 

O texto que se segue, da lavra de António Araújo, já é do conhecimento público (ver aqui). Trata-se, no âmbito de uma pseudo-biografia sobre Agostinho da Silva, de uma crítica dirigida a um professor da Universidade de Évora - aliás anarco-comunista e também ele membro fundador do Projecto António Telmo. No mais, a resposta do visado já veio igualmente a público (ver aqui), para assim alegar "que uma biografia não é um género linear, como de resto nenhum género poético o é". Ora, sobre isso, não levantamos nenhuma objecção, sem prejuízo para as eventuais fontes documentais. Mas, no que respeita a Agostinho da Silva, já é caso para perguntar que valor literário ou poético revelam expressões do tipo: "Matava com a mão o apetite do bicho mas o que ele queria mesmo era o corpo meio nu da prima nas mãos"? Enfim, não há dúvida de que estamos perante um sinistro e estranhíssimo biógrafo de um singular quão inestimável missionário do Espírito Santo. 

 

Verifica-se que, num curriculum tão vasto e tão rico como o de António Cândido Franco, somente três qualidades lhe são aqui relevadas: a de professor universitário; a de anarco-comunista; e a de também ele membro fundador do Projecto António Telmo. Vida e Obra.

O também ele, aqui, alude provavelmente a Pedro Martins, dados os antecedentes próximos que os leitores da nossa página possivelmente recordarão.

Registamos, com agrado, a atenção, com seu quê de obsessivo, com que, enquanto projecto de investigação, Miguel Bruno Duarte nos distingue.

Registamos ainda, aqui com subido orgulho, o modo como nos associa a uma polémica em torno de uma obra sobre Agostinho da Silva, um dos mestres do nosso patrono, mas não o nosso patrono. Será, da sua parte, sinal de reconhecimento do trabalho singular e, em certa medida, incomparável no último ano, que o nosso projecto tem desenvolvido em torno do estudo e da divulgação da vida e da obra de Mestre Agostinho, algo que, ainda há semanas, na tertúlia promovida pela Associação Cais de Culturas em que participaram Rui Lopo e Pedro Martins, o escritor Fernando Dacosta sublinhou publicamente? Só Bruno Duarte o poderá esclarecer...

Quanto ao epíteto de “anarco-comunista”, por sinal aquele que, literalmente, Teixeira de Pascoaes para si reservou em A Minha Cartilha (já Sampaio Bruno, fundador da Filosofia Portuguesa, se definira, n'O Brasil Mental, como "socialista-anarquista"), terá de ser António Cândido Franco, se assim o entender, claro está, a pronunciar-se sobre ele, a par de uma ou outra aleivosia pertinaz com que Miguel Bruno Duarte se lhe dirige.

Com efeito, António Cândido Franco irá responder-lhe, nesta página, na próxima semana. Será aliás, da sua parte, o ponto final nesta polémica que ganha novos contornos.

A Miguel Bruno Duarte, e aos leitores em geral, recordamos que o Projecto António Telmo. Vida e Obra é antes de mais um grupo de amigos, onde coexistem e convivem pessoas das mais variadas orientações políticas e religiosas: monárquicos e republicanos, católicos e maçons, cristãos e filo-judaicos, anarquistas, comunistas, socialistas, crentes, ateus, etc. O que, possivelmente, explicará, em parte, a obsessão com que Bruno Duarte nos distingue. E que, como o mesmo imaginará, nos deixa muito satisfeitos. Tão satisfeitos, aliás, que não perderemos mais tempo a responder às suas provocações. Nisto, na senda de António Telmo, somos aristotélicos, atentos, pois, à justa medida.