DOS LIVROS. 54

15-03-2017 09:35

Explicação

 

Vinte anos depois, venho retomar a História Secreta de Portugal no ponto em que a deixei. Do horóscopo que fez Fernando Pessoa apenas uma data, o ano de 1978, foi motivo de incertos vaticínios, mentidos ou desmentidos, depois, pelos acontecimentos. Esperei em vão que outros, mais versados em astrologia do que eu, fizessem o que não fiz então: ler toda a sina do nosso país nas linhas traçadas pelo vate.

Em vinte anos, passou-se muita coisa. Estamos, hoje, em posição de ver melhor, estudando a história do futuro pela história do presente e a história do presente pela história do passado. O horóscopo de Portugal é um documento impressionante. Tudo está aí, assim haja quem o veja.

Juntei a esta republicação das minhas ideias sobre a história de Portugal umas cinquenta páginas de aprofundamento. Elas constituem um novo livro, em modo sintético. Sendo esse livro, como é, a apresentação de um destino, deixará certamente perplexo o leitor para quem, por ventura, a história seja o domínio do imprevisível. No pensar de Fernando Pessoa há, como se verá, um primeiro, um segundo e um terceiro Portugal. Sabemos só, pelo horóscopo, que haverá, em tempo marcado, um quarto e um quinto que serão, em planos sucessivos, a manifestação gloriosa da alma portuguesa depois da viagem milenária pelo céu e pelo inferno da sua história. Imprevisível de todo é a forma dessa manifestação, mas sem a consciência do que fomos e do que somos não estaremos presentes no que quer que seja que viermos a ser.

O horóscopo trouxe-nos de novo ao Templo, em Belém, da Senhora dos Reis Magos. Continuo a pensar, vinte anos depois, que não foi em vão que os Boitacas deixaram escrita na pedra a transcendente mensagem. Não tem sentido pensar que edificaram o Templo para gozo dos turistas e dos historiadores de arte antiga ou para lugar de solenidades públicas de efémera repercussão. Quem morreu não foi Deus, como pensou o alemão ateu, quem morreu foram os monges e o que foi criado para lugar de oração é, mesmo sem monges e invadido por uma multidão informe ou por políticos sem Pátria, uma oração de pedra, que a excede infinitamente.

 

Valete Fratres

 

António Telmo 

 

(Publicado em O Horóscopo de Portugal, 1997)