DOS LIVROS. 33
O gato e o Corão
Recebi do Mário Rui, o islamita, uma preciosa oferta, o Corão em Árabe, com dourados, um livro muito belo que, infelizmente não posso ler.
Em casa, estive a folheá-lo com a minha mulher e pu-lo por fim sobre o tampo da camilha, à volta da qual estávamos sentados. O nosso gato saltou para cima da camilha, subiu para cima do livro, com as quatro patas nos seus quatro ângulos e estendeu-se deixando levantada a parte de trás como quem se espreguiça, desenhando exactamente a figura da prosternação, que é nos muçulmanos o terceiro momento da prece. E coisa ainda mais espantosa e assombro dos assombros, ficou nessa postura imóvel durante quinze minutos. Estava voltado para Meca.
Contei ao Mário Rui, mas, sem dizer uma palavra, despediu-se de mim com um aceno de cabeça. O que ficou pensando?
António Telmo
(publicado em Congeminações de um Neopitagórico, 2006-2009)