DOS LIVROS. 12
Meta-História ou a Terra Prometida
Quando consideramos, isto é, conjugamos com o sideral, o saturnino espectáculo do mundo não podemos, apesar de todas as promessas, deixar de ficar tristes. São as guerras, as doenças, os assassínios em massa, a progressiva e intencional estupidificação dos homens, o alastramento do vício e a mecanização das inteligências, e, sobretudo, a mediocridade dos contabilistas que se apoderou do mundo, é tudo isso e muito mais, que alguns têm explicado como a manifestação de uma vontade perversa actuando do subconsciente para o consciente da humanidade. O filósofo D. Duarte considerava a tristeza um pecado porque é sinal de que deixámos de acreditar na bondade de Deus. Sempre me espantou que o ensino dos artistas, dos poetas da ciência ou da palavra, dos filósofos ou dos místicos receba dos governos a resposta da mediocridade. Pela sua crucificação, Jesus Cristo aboliu os sacrifícios humanos; a Inquisição, fundando-se no cristianismo, queimou aqueles que protestavam contra esses sacrifícios.
Está anunciada uma terceira idade de que nos aproximamos velozmente, em que, como disse o Bandarra, a paz será em todo o mundo. Como conciliar isto com aquilo? É que a terra em que vivemos é apenas um laboratório; no athanor da humanidade separa-se o subtil do denso. Esta não é a terra definitiva. Para onde vai a energia que, pela entropia, constantemente se perde? Transforma-se em energia espiritual. Tudo quanto de bom e de verdadeiro se pensou e imaginou, se pensa e imagina, é o subtil que se separa do denso e vai formar a Terra Prometida.
As formas do nosso verídico imaginar ficarão à espera de que os tempos se cumpram para se incorporarem numa nova humanidade de que não participarão só os vivos de então, mas também todos os mortos do presente e do passado que não podem ter vivido em vão.
António Telmo
(Publicado em O Portugal de António Telmo, 2011)