DOCUMENTA. 09
Na entrevista sobre Guerra Junqueiro concedida a Henrique Manuel S. Pereira, que veio a integrar o livro À Volta de Junqueiro – Vida, Obra e Pensamento (Universidade Católica Portuguesa, Porto, 2010) e que, mais tarde, seria recolhida em A Terra Prometida – Maçonaria, Kabbalah, Martinismo e Quinto Império, Volume I das suas Obras Completas, editado pela Zéfiro em 2014, responde António Telmo, a dado passo, ao seu entrevistador do seguinte modo:
Tem presente a época e circunstância em que “descobriu” Guerra Junqueiro?
Descobri Guerra Junqueiro quando comecei a compreender aquilo que lia. Por volta dos meus treze anos. Nesse tempo, não havia televisão, que veio corromper as noites em família. Jogávamos, conversávamos, líamos. O meu Pai era monárquico e bom cristão. Em jovem, tinha batalhado no movimento do Integralismo Lusitano do António Sardinha e tinha sido preso. Eu e os meus irmãos (éramos três, o António, o Rui e o Orlando, por ordem ascendente das idades) gostávamos de ver a fotografia do nosso pai no Talassa, ali onde se elogiava a actividade monárquica que o levou à prisão. Por esses tempos, também o Agostinho da Silva andava pelo Integralismo Lusitano. Este meu grande Amigo e meu pai devem ter-se conhecido. Ora acontecia que, na pequena biblioteca literária do meu pai (era jurista), só quase havia livros de republicanos anticlericais. É o que acontece hoje com os anticomunistas: todos têm na sua estante, em lugar de honra, o Saramago e o Lobo Antunes.
Se a militância de Agostinho da Silva no Integralismo Lusitano nunca foi demonstrada, a menção do filósofo da razão poética a O Thalassa é exacta. No número 60, de 15 de Maio de 1914, deste semanário humorístico e de caricaturas assumidamente afecto à causa monárquica, que se publicou entre 1913 e 1915, os retratos de António Diniz Victorino e de três outros seus correligionários encimam uma página dedicada à rubrica “Álbum dos presos políticos”, então já na sua décima primeira edição. Do pai de Telmo ficaremos por ela a saber:
Quartanista de Direito na Universidade de Coimbra e um dos alumnos mais distinctos do seu curso. Preso em Julho de 1912 por accusações de conspirar e detido sem culpa formada durante 164 dias. Esteve nas cadeias de Coimbra e Portalegre, voltando, depois de uma excursão accidentadissima por muitas outras prisões do paiz, para a Penitenciaria de Coimbra em 10 de Setembro do mesmo anno.
O leitor que pretender explorar o fascinante universo de O Thalassa pode fazê-lo na excelente página da Hemeroteca Digital de Lisboa que lhe é dedicada e da qual provêm as imagens que aqui lhe oferecemos.