DISPERSOS. 16
O Último Discípulo de Leonardo Coimbra[1]
Todos vão lamentar a morte de Agostinho da Silva e irá, decerto, dizer-se que perdemos um grande espírito. Neste momento, Portugal poderá ganhá-lo tornando seu tudo quanto escreveu. Não se pode considerá-lo somente um escritor. Ele era também um livre-pensador precisamente por ser não ateu. Como tal, exprimiu-se como um homem de acção.
Tive a sorte de conviver com ele diariamente, durante três anos, e fiquei impressionadíssimo com o seu comportamento, desinteressado, raro, porque pressupunha a iluminação do espírito nos mínimos actos e gestos, na vida dos sentimentos.
Agostinho da Silva foi o último discípulo de Leonardo Coimbra. Assim se fecha um ciclo. E como todo o ciclo é uma espiral, só agora ele poderá ser vivido e pensado como uma sugestão e abertura para o infinito.
António Telmo
[1] Nota do Editor – O título é da nossa responsabilidade. Publicado originalmente, como um de quatro “Testemunhos” [na morte de Agostinho da Silva], em Diário de Notícias, ano 130.º, n.º 45667, Lisboa, 4 de Abril de 1994, p. 34.