CORRESPONDÊNCIA. 35

20-01-2017 22:18

CARTAS DE ERNÂNI ROQUE PARA ANTÓNIO TELMO. 01

 

INTRODUÇÃO CORRIGIDA EM 14 de NOVEMBRO DE 2023

 

Amigo de António Telmo, que o conheceu através do sesimbrense Rafael Monteiro, num círculo a que também pertenceram António Reis Marques, Orlando Vitorino e Agostinho da Silva, entre outros, Ernâni Roque é uma das figuras menos conhecidas, mas nem por isso das menos significativas, do universo télmico. Não sendo natural de Sesimbra, manteve estreitos laços com esta terra, onde durante décadas, na segunda metade do século XX, passou as suas férias em casa arrendada, dados os laços de amizade que o ligavam a alguns dos seus naturais. Por um lado, o já referido Rafael Monteiro, que o conhecera, nos anos quarenta, na sede da Mocidade Portuguesa, no Palácio da Independência, em Lisboa, quando Marcelo Caetano era o Comissário Nacional daquele organismo. Roque conhecia Caetano, de quem era amigo, das lides do escutismo, e este, conhecedor dos seus dotes de escrita, nomeou-o editor do Jornal da Mocidade Portuguesa

Ernâni Roque trabalhou como desenhador na Câmara Municipal de Lisboa, onde tinha por colega, na Repartição da Cor, um outro sesimbrense, João Cardoso Baptista Gouveia, circunstância que evidentemente concorreu na sua predilecção pela póvoa marítima. Mais tarde, ingressará nos quadros da Polícia Judiciária, onde chegará a subinspector. 

Ernâni Roque foi director do jornal O Sesimbrense, entrevistando, em Julho de 1973, Álvaro Ribeiro para o periódico da Piscosa. São da sua autoria as fotografias do claustro do Mosteiro dos Jerónimos que ilustram a primeira edição da História Secreta de Portugal. Faleceu em 1982. A sua correspondência para Telmo, cuja publicação hoje iniciamos, dá-nos conta dos estranhíssimos episódios que envolveram a atribulada captação dessas imagens. Revela, ainda, informações preciosas sobre a recepção do livro pelo grupo da Filosofia Portuguesa e pelo grande público. 

 

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Algés, 10/III/77.

 

Meu caro Telmo:

 

Você está mesmo com azar! O rolo (que não rolava), mas era a preto e branco, entregue a um idiota aqui em Algés para verificar em câmara escura, foi por ele remetido ao laboratório – que revelou um rolo inteiramente virgem, fazendo-me perder tempo e dinheiro. Visto o resultado, compro ao mesmo cretino um rolo preto e branco, volto aos Jerónimos, faço vinte exposições e entrego o trabalho a uma casa em Lisboa. Vou hoje de manhã busca-lo e verifico que, sem saber, estive a trabalhar a côres. Resultado: isto também não serve, porque não tem nitidez nem contraste capazes para dar gravura.

De qualquer modo, vão inclusos os oito ângulos, com as repetições que eu tive o cuidado de fazer, de São Jerónimo. Junto alguns dos medalhões. Pode guardar tudo como recordação dos sucessivos falhanços…    

Como se prova portanto pelos documentos juntos, há necessidade de 4.ª (!) tentativa. Fá-la-ei sábado próximo e, se quiser, mande-me instruções entretanto no sentido de entregar as provas directamente ao homem da tipografia, que não sei onde é. Poderemos assim poupar algum tempo.

Um abraço do seu chatiadíssimo amigo

                              Ernâni Roque