CORRESPONDÊNCIA. 32
CARTAS DE ANTÓNIO CARLOS CARVALHO PARA ANTÓNIO TELMO. 01
5/1/77
Meu caro Amigo (permita-me que o trate assim, visto que, afinal, estamos ligados por laços tradicionais, ou seja, indestrutíveis, para além dos condicionalismos do tempo e do espaço)
Primeiro que tudo, um pedido de desculpas, que é a ao mesmo tempo uma justificação: escrevo-lhe à máquina porque a minha caligrafia tem piorado com os anos, a ponto de somente eu e minha mulher a podermos decifrar. E, mesmo assim, às vezes…
Vamos ao que importa: terça-feira passada[1] houve reunião com os sócios da VEGA[2], Assírio Bacelar e Vítor Paiva. Nessa reunião evidentemente o ponto principal da “agenda de trabalhos” foi o seu livro. Fiz-lhe a devida apresentação, afirmei claramente que tinha tanto interesse nele como se fosse meu e procurei realçar a importância do seu texto e da sua publicação numa colecção do tipo da “Janus”[3]. Tudo isto foi claramente entendido por eles, o que muito me consolou. E foram eles próprios a pôr a questão: não haverá outras pessoas, suas amigas ou conhecidas, interessadas nestes temas, que tenham projectos, investigações já feitas ou até livros já prontos que estejam apenas à espera de editor?... Veja a perspectiva que isso nos poderia abrir – formar um grupo de estudos a partir desta colecção, com autores-investigadores que encontrassem ali abrigo para os seus originais… Parece quase um sonho, não é verdade? Mas talvez se possa tornar realidade se os Fados nos forem propícios. Seja como for, vamos lutar por isso.
Em termos monetários e quantitativos, o seu livro deverá ter três mil exemplares vendidos a cem escudos. E dessa multiplicação cabem-lhe de direitos dez por cento, pagos em quatro prestações (a editora é “minhoca”, como sabe): a primeira a 30 dias da publicação, a segunda a 60 dias e as outras duas a 6 e 12 meses da publicação, com os devidos ajustamentos em relação às vendas. Espero que esta explicação esteja clara…
Mas este livro é só o princípio. Estão abertas as portas para continuarmos a escrever nesta colecção, nós e outras pessoas que estejam interessadas. Compete-nos, portanto, angariar colaboradores e textos que se enquadrem dentro desta linha. De facto o tempo que nos resta é escasso; convém aproveitá-lo bem. Que o Grande Arquitecto do Universo nos ajude.
Sempre se confirma a existência de um inédito “sebastianista” do José Marinho? Se assim fosse, teríamos que arrancar já com isso, para entrar a seguir na colecção.
Aguardo as suas boas notícias e entretantos estamos de parabéns!!!!!
Um abraço tradicional do seu amigo
António Carlos Carvalho
[1] A terça-feira imediatamente anterior à data desta carta foi o dia 4 de Janeiro de 1977.
[2] Chancela que publicou, em 1977, a edição prínceps da História Secreta de Portugal.
[3] António Carlos Carvalho era o director da Colecção Janus.