CORRESPONDÊNCIA. 22
CARTAS DE ANTÓNIO TELMO PARA ANTÓNIO CÂNDIDO FRANCO. 05
Estremoz, 21 de Agosto de 1990
De António Telmo a António Cândido Franco
Vale!
Se falasse consigo sobre o belo livro de versos[1] que me enviou não me limitaria a dar-lhe os parabéns, mas teria de fazer-lhe algumas perguntas para poder, consoante as respostas, entrar deste ou daquele modo na intimidade dos seus poemas. Todas as perguntas convergiriam para esta: Sendo aquilo a que v. chama cosmologia ôntica ou ontologia cósmica duas expressões germânicas da velha relação do microcosmos com o macrocosmos, a direito ou no avesso, gostaria de saber se essa relação é actualizada e vivida no momento em que escreve ou se, antes, dela teve maior ou menor experiência. Eu sei que o leitor não deve meter o nariz onde não é chamado e o que lhe é entregue como o primeiro dado é o poema. Mas sei também a diferença que há entre um médio (medium) literário com a sua tripeça verbal que fabrica as metáforas de sete léguas e um espírito que é activamente livre na experiência daquela relação. Seja como for, já li três vezes o seu livro, fascinado pela sua beleza e profundidade. Envio-lhe um grande abraço. Até um dia destes.
Seu
António Telmo
[1] Nota do editor – António Telmo refere-se, por certo, ao livro de António Cândido Franco Corpos Celestes, Lisboa, Limiar, 1990.