«CAPELAS IMPERFEITAS», VOLUME X DAS OBRAS COMPLETAS DE ANTÓNIO TELMO, É LANÇADO NO DIA 18 DE JANEIRO, ÀS 18:30, NA ESCOLA SUPERIOR DE MEDICINA TRADICIONAL CHINESA, EM LISBOA
Capelas Imperfeitas – Dispersos e inéditos, Volume X das Obras Completas de António Telmo, que sairá a lume com a proverbial chancela da Zéfiro, será lançado no próximo dia 18 de Janeiro, na Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa, em Lisboa. A apresentação da obra será feita por António Carlos Carvalho e a sessão, que se realiza na Sala Araújo Ferreira, terá início às 18:30, contemplando ainda a apresentação do número 22 da revista Nova Águia pelo seu Director, Renato Epifânio.
Prefaciado por Pedro Martins, que o organizou e anotou, e reunindo os epistolários, em boa parte inéditos, que Telmo manteve com os seus mestres Álvaro Ribeiro e José Marinho, bem como trinta cartas que escreveu a António Cândido Franco, numa selecção muito representativa que agora vem a lume, Capelas Imperfeitas inclui ainda, sempre sob o lema Bellum sine Bello, a segunda e derradeira parte da polémica, que ficou sanada, com o biógrafo de Agostinho da Silva a propósito das relações da Filosofia Portuguesa com o Surrealismo e Mário Cesariny, bem como a colaboração do filósofo na página cultural de O Setubalense, Arca do Verbo, quase integralmente preenchida pela polémica com um outro membro do seu círculo, o malogrado João Rêgo. Abrindo com Textos de Escrita Vária, em que avultam vinte e cinco Apontamentos e Fragmentos, e fechando com dois textos de intervenção em prol do movimento da Filosofia Portuguesa, publicados no primeiro número dos Cadernos de Filosofia Extravagante, estas Capelas Imperfeitas têm porventura nos Diálogos do Mês de Outubro, de que acaba de sair um excerto no mais recente número da revista Nova Águia, ontem lançado em Lisboa, o seu mais forte motivo de interesse. Tudo leva a crer, desde logo pelas indicações manuscritas no respectivo caderno manuscrito, mas também pelo seu teor, que se destinavam à primitiva versão de Filosofia e Kabbalah, que Telmo, em carta para António Quadros de Junho de 1986, dava já por completa. Como, no prefácio, escreve Pedro Martins:
«Precedidos de uma “Explicação”, encontramos sete diálogos, correspondentes aos sete dias da semana, em referência expressa aos deuses pagãos da mitologia clássica que respectivamente os regem, deste modo se predispondo os temas das conversas. Da Explicação, como da maior parte dos diálogos, encontraremos mais do que uma versão.
Os interlocutores tomam para seus nomes próprios os de mestres do filósofo, ou, talvez melhor dizendo, de «famosos filósofos que, de facto, foram decisivos para a orientação espiritual do autor», sem que com os mesmos possam, todavia, ser identificados em termos de pura coincidência. São eles Eudoro (de Sousa), José (Marinho) e Álvaro (Ribeiro). Mas Eudoro será, muitas vezes, substituído por Leonardo, e José irá, não raro, aparecer nomeado como Marinho.
Cada um destes nomes deve, pois, ser encarado como um símbolo. Como se explicita numa das versões, a primeira, da “Explicação”, Eudoro é «o católico ortodoxo»; Marinho, «o gnóstico, o oriental, o pensador da luz e do abismo»; Álvaro, «o católico ocultista, o cristão novo, o sefardi converso». Estas «três perspectivas (…) coexistem no espírito do autor deste livro», que as pôs «a conversar umas com as outras», procurando «ser o quarto que as conduz como um pastor». Quanto se pode ler na terceira e última versão da “Explicação” permite-nos, de algum modo, referir Leonardo à ortodoxia católica, Álvaro à Kabbalah sefardi e Marinho ao Islão iniciático do sufismo, o que nos conduz a um reencontro com a tese da confluência das três tradições peninsulares na formação da Filosofia Portuguesa, que foi a de Álvaro Ribeiro.
A identificação de Telmo com Álvaro será, de resto, e de longe, a mais flagrante, e não poderia ser de outra forma, pois que os Diálogos ostentem a seguinte dedicatória: «Ao filósofo do meu alvoroço, meu terceiro e verdadeiro mestre, Álvaro Ribeiro.» E é por essa identificação, como «uma dominante que harmonize entre si os vários aspectos do horóscopo mental», que a reintegração conciliatória das partes no todo poderá, enfim, ser lograda. Como diz o filósofo na primeira versão da “Explicação”: «Em mim, o católico ortodoxo de tradição familiar e o ocultista que procura fora do catolicismo aquela verdade esotérica que é pertença de todas as religiões vêm conciliar-se ou harmonizar-se no católico ocultista, que vê no Homem o nome de Deus que devemos santificar». Já de si António Telmo afirmara, logo no fragmento com que abre o presente volume, que «é Tomé, de uma família vagamente judaica». O seu marranismo resolve-se, assim, numa superior síntese conciliatória dos aspectos antagónicos associados, prima facie, aos dois credos.»
Refira-se, por último, a marginália destas Capelas Imperfeitas, em que se publica uma carta de Henri Gouhier para António Telmo encontrada no espólio de Álvaro Ribeiro, juntamente com as cartas que o autor de Arte Poética escreveu ao seu mestre, artigos de Afonso Botelho e Dalila Pereira da Costa sobre Telmo, publicados num dos dois números com que a já referida Arca do Verbo o homenageou em 1991, e uma carta aberta de António Cândido Franco a João Rêgo, no âmbito da polémica, também já referida, que este manteve com António Telmo naquele suplemento.