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VOZ PASSIVA. 29

21-09-2014 12:00

Os Cadernos de Filosofia Extravagante foram uma criação de António Telmo, que aliás escreveu o texto de apresentação do seu primeiro número, lançado em Março de 2009, na Biblioteca Municipal de Sesimbra. Desta publicação saíram, até ao presente, quatro volumes: Universalidades (Serra d’Ossa, 2009); Singularidades (Serra d’Ossa, 2010); António Telmo (Zéfiro, 2011); e Interiores (Zéfiro, 2012).

O quinto volume, Confluências, que tinha a sua data de lançamento designada para 30 de Novembro de 2013, viu a respectiva pré-maqueta ser entregue, para paginação, ao editor, há quase um ano, em 17 de Outubro. Três dias antes daquela data, a entidade responsável pela edição dos Cadernos anunciava o cancelamento da respectiva sessão, alegando, para o efeito, “atrasos na produção” do volume. O facto mereceu da parte de três membros do Projecto António Telmo. Vida e Obra os esclarecimentos públicos que, em nome da verdade, e perante as evidências, então se impunham, demonstrando estes, nomeadamente, que tais atrasos de modo algum poderiam ser imputados quer ao principal responsável pela coordenação editorial dos Cadernos, quer à editora Zéfiro.  

De lá para cá, quase dez meses volvidos, nada mais foi publicamente anunciado quanto à edição deste quinto volume de uma publicação que se destina a perpetuar a memória de António Telmo e a promover a difusão da Filosofia Portuguesa. O tempo, esse grande mestre, encarregou-se enfim de esclarecer o que, porventura, tivesse ficado ainda pouco claro.

Fiel aos propósitos que o regem, o Projecto António Telmo. Vida e Obra publica hoje um artigo, da autoria de António Carlos Carvalho, sobre Meyrink e o Golem, destinado ao quinto volume dos Cadernos, onde a importância do escritor austríaco na obra e no pensamento de António Telmo é bem visível. Outros escritos sobre António Telmo de membros do nosso projecto se seguirão, sempre na secção VOZ PASSIVA. É o caso de um ensaio de Eduardo Aroso, que aqui será publicado na próxima semana. 

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Meyrink e «O Golem»

António Carlos Carvalho

[Gustav Meyrink]

 

«Prefiro a todos os livros que nos chegam do estrangeiro os de Gustav Meyrink, um romancista quase desconhecido que Jorge Luis Borges traduziu para a Argentina e que constitui a melhor versão actual de H. Corneille-Agrippa, autor de um famoso tratado de filosofia oculta escrito no século XVI» -- excerto de uma entrevista de António Telmo publicada em «Teoremas de Filosofia», nº 3, 2001 e depois reproduzida em «O Mistério de Portugal na História e n’Os Lusíadas».

Quando li esta declaração do nosso Amigo sorri interiormente, num sorriso de cumplicidade. Afinal não era só eu a ter um «fraquinho» por Meyrink e pelos seus estranhos textos. Além de Borges, Telmo confessava assim o seu fascínio por aquele autor. Fascínio, no mínimo, insólito para quase todos, porque poucos conhecem, ainda hoje, Meyrink.

E isso apesar de estarem publicadas por cá estas obras dele: «O Golem» (Vega, 1990?), «A Noite de Walpurgis» (Estampa, 1991), «O Cardeal Napellus» (Presença, 2007) «Babinski: o Salteador de Praga» (Imprensa Canalha, 2007) e também a sua introdução ao «Tratado da Pedra Filosofal», de Tomás de Aquino (Fim de Século, 2000).

Lá fora estão publicadas «Na Fronteira do Além», «História do Alquimista», «O Dominicano Branco», «O Rosto Verde» e «O Anjo à Janela do Ocidente». 

Vejamos então alguns traços biográficos deste autor. Embora seja geralmente considerado um escritor de Praga, a verdade é que nasceu em Viena, em 1868 e veio a morrer em Starnberg, Baviera, em 1932. Era filho ilegítimo de um aristocrata, o barão Karl von Hemmingen, e de uma actriz judia, Maria Meyer (Meyrink é nome literário que adoptou).

Entre 1882 e 1902, foi banqueiro em Praga mas em 1891, na sequência de uma vida dissoluta, sofreu um colapso nervoso e esteve à beira do suicídio -- mais tarde contou que foi salvo por um opúsculo que lhe meteram por baixo da porta e que falava sobre espiritismo, ocultismo, magia. Em vez de se matar, decidiu dedicar-se a estudar esses mundos desconhecidos, com uma imensa ânsia de saber, uma sede insaciável por tudo o que ultrapassava os limites da existência comum.

Estudou também o Yoga e as doutrinas orientais, integrou-se em grupos ocultistas e espíritas, contactou sociedades secretas, praticou a alquimia. Corriam rumores de que dirigia os assuntos do banco de acordo com a orientação de um espírito-guia…

Em 1902 acabou por se retirar do mundo das finanças, dedicando-se em exclusivo às suas pesquisas espirituais e à escrita como ficcionista. A sua obra (cinco romances e quatro colectâneas de contos) será consagrada a revelar alegoricamente, sob a forma da chamada «literatura fantástica», as vias e os meios para se obter um estado superior de consciência. Meyrink acreditava que não somos um eu individual e autónomo mas sim a manifestação de um deus ou demónio, um demiurgo, preexistente e eterno. Dizia ter visões que o levaram a pensar em imagens e não em palavras -- «esse poder da visão foi a própria causa que me fez tornar escritor».

Para ele, a vida normal era sono, só o homem desperto, acordado, graças à ciência esotérica, conseguia romper o jugo da animalidade e fazer ascender a sua consciência aos planos superiores da existência.

Todos esses temas atravessam as suas obras e transformam-nas em universos estranhos, por vezes assustadores -- mas perfeitamente de acordo com a Praga do seu tempo enquanto herdeira de séculos em que gozou da fama de cidade dos alquimistas, dos feiticeiros, dos pesquisadores das ciências ocultas.

No mínimo, Praga era então uma cidade estranha, onde tudo poderia acontecer e onde se respirava uma espécie de antevisão de tempos futuros terríveis. Meyrink e Kafka viveram em Praga na mesma época mas não chegaram a conhecer-se, embora Kafka reconhecesse o talento de Meyrink ao conseguir reproduzir brilhantemente as atmosferas de certas partes da cidade. Em contrapartida, Max Brod, o grande amigo de Kafka, conheceu Meyrink e admirou-o, embora estranhasse o mundo em que ele vivia: tinha como amigos um coleccionador de moscas mortas e um vendedor de livros raros que só os vendia com a aprovação de um corvo cujas asas já tinham muito poucas penas…         

[Gustav Meyrink na juventude]

 

Em 1904, Meyrink regressou a Viena mas por pouco tempo: os seus escritos anti-militaristas obrigaram-no a exilar-se na Suíça em 1905-6 e depois instalou-se na Baviera. Traduziu as obras de Dickens enquanto escrevia «O Golem», o seu primeiro romance, publicado em 1915, que se tornou logo num êxito -- chegou a ser adaptado duas vezes para cinema por Paul Wegener e uma outra por Julien Duvivier.

Meyrink escreveu o que podemos chamar uma recriação muito pessoal da lenda do Golem de Praga -- a qual, aliás, tem diversas versões e recupera lendas muito mais antigas, que nada têm a ver com Praga mas utilizam o tema do Golem.

Sintetizando muito (Moshe Idel escreveu um grosso volume sobre o Golem, que vale a pena ler atentamente), podemos dizer que a lenda do Golem de Praga convoca a figura exemplar e extraordinária do rabi Judah Loew ben Bezalel (o chamado Maharal de Praga), do século XVI, autor de textos fundamentais sobre o pensamento judaico e grande defensor da sua comunidade perante os ataques recorrentes de anti-semitismo que ali ocorriam. Então reza a lenda que, num período de maior risco para a vida da comunidade, o rabi teria recorrido a uma medida extrema: criar um ser gigantesco, dotado de enorme força -- mas incapaz de falar --, feito a partir do barro e animado graças a um antigo ritual kabbalístico e ao poder do Nome de Deus (ou, noutra versão, da palavra «verdade») inscrito na sua testa. O Golem (palavra que só aparece uma vez, no Salmo 139, 16), e que significa «embrião», matéria-prima informe) executa a sua missão, defende os judeus do ghetto de Praga e o rabi transforma-o novamente em barro, apagando as letras do nome. Noutras versões, o Golem deixa de obedecer às ordens do rabi, faz inúmeros desmandos e o rabi é então obrigado a destruí-lo, ficando o seu bairro guardado no sótão da sinagoga Velha-Nova de Praga.

Na recriação de Meyrink, o Golem continua a manifestar-se periodicamente de 33 em 33 anos, num quarto sem portas e os traços do Golem são os do próprio protagonista do romance…

Claro que o Maharal nunca teve nada a ver com esta história mas a lenda associou-o irremediavelmente a esta narrativa duradoura que ultrapassou as fronteiras do ghetto e da própria cidade.

Obviamente, o essencial da lenda -- uma história exemplar com múltiplas leituras possíveis -- tem a ver com a criação que o Homem pode e deve fazer e quais os seus limites. Enquanto co-criadores, somos chamados a colaborar na obra da Criação do Mundo que Deus deixou voluntariamente inacabada para que sejamos nós a assumir essa tarefa. Mas até onde podemos ir? Ou será que tudo nos é permitido?

Sabemos bem das reservas que António Telmo colocava relativamente ao chamado mundo da cibernética e dos computadores. Assim, será interessante saber que Gershom Scholem, um estudioso que Telmo tanto admirava, quando nos anos 60 soube que o Instituto Weizmann de Rehovot tinha criado o primeiro computador de Israel, sugeriu que lhe fosse dado o nome de Golem Alef, isto é, Golem nº 1... Depois, no discurso de inauguração do computador, em 17 de Junho de 1965, Scholem afirmou que o Golem de Rehovot poderia muito ser a réplica do Golem de Praga e que, aliás, «o novo Golem parece ser capaz de aprender e de se aperfeiçoar, o que revela a superioridade dos Kabbalistas modernos.» O discurso do velho sábio estava carregado de ironia e terminava com uma recomendação ao Golem e ao seu criador, a de crescerem em paz e não destruírem o mundo…

Muito mais tarde, em 2000, Charles Mopsik viria a comentar: «O Golem é menos o paradigma da máquina humanizada, da matéria tornada animada e programada, do que o símbolo do desconhecimento do homem acerca das suas próprias intenções e dos seus verdadeiros desejos», «não sabemos o que queremos e é por causa disso que programamos imperfeitamente os Golem que criamos constantemente».

(Nesta altura em que os computadores parecem querer tomar conta de tudo, e em que os laboratórios modernos prosseguem inexoravelmente a tarefa de criar robôs cada vez mais parecidos connosco, talvez seja também conveniente lembrar que a ideia do robô nasceu igualmente em Praga, com o escritor checo Karel Capek e a sua comédia utópica «R.U.R.» em 1920 -- outro contemporâneo de Meyrink e de Kafka, que um dia confessou: «Enquanto escrevia, fui tomado por um medo terrível, queria prevenir contra a produção em massa e de repente a angústia tomou conta de mim e compreendi que isso se arriscava a tornar-se realidade, que o meu aviso não serviria para nada, que tal como eu, enquanto autor, conduzira as forças desses engenhos obtusos aonde queria, alguém um dia poderia erguer esse estúpido homem-massa contra o mundo e contra Deus.») 

Mas voltemos a «O Golem» de Gustav Meyrink, em que a lenda aparece referida em pouco mais de uma dezena de páginas, a par de alusões ao «Zohar», à Kabbalah, ao poder das letras, ao Talmude, ao Messias, ao Tarot e à Luz -- título, aliás, do capítulo 10 do romance.

Jorge Luis Borges contou que os seus estudos de Kabbalah tiveram como ponto de partida a leitura de «O Golem» de Meyrink e uma longa conversa com G. Scholem. Anos depois dedicou-lhe um poema, precisamente intitulado «O Golem».

No caso de António Telmo, é fácil perceber as afinidades que encontrou no universo de Meyrink e, nomeadamente, em «O Golem»: também os seus contos são histórias simbólicas, irónicas, portadoras de mensagens enigmáticas; as visões iluminam-no; as cartas de jogar estão carregadas de significado e o jogo é sempre mais do que um simples jogo; o Tarot é um universo simbólico fundamental para ambos.

E depois, não o esqueçamos, temos as afinidades entre textos de Meyrink e ensinamentos de Álvaro Ribeiro, o mestre de Telmo:

Em «O Golem», cap. 10 «Luz», p. 119, podemos ler:

«-- Já que estamos a falar de cartas, senhor Zwakh, costuma jogar o Tarot?

-- Claro. Desde pequeno…

-- Nesse caso, espanta-me que proteste por causa de um livro que contém toda a  Kabala, quando o teve nas mãos tantas vezes.

-- Eu? Nas mãos? Eu? -- Zwakh agarrou-se à cabeça.

-- Sim, você! Nunca lhe ocorreu que o baralho de Tarot possui 22 arcanos -- tantos como as letras do alfabeto hebraico? (…) Há algo que talvez não saiba: é que palavra Tarot possui o mesmo significado que o hebraico Torá, que quer dizer “a Lei“».

E agora consultemos o vol. III dos «Dispersos e Inéditos» de Álvaro Ribeiro, texto «Kabala», págs. 485 a 492, fragmento de um livro talvez a fazer. Lemos:

«A cabala é a matemática das letras. Sua prática provém da mais alta Antiguidade, pois é inerente à arte da escrita, que a engloba. (…) A operação fundamental da cabala é a permutação das letras na palavra inteira, o anagrama, já que grama significa letra, donde gramática. O processo mais simples é o de inverter a ordem das letras e de ler a palavra em sentido inverso. Simples, sérios e famosos exemplos desta espécie foram as permutações de AVE para EVA, de AMOR para Roma. Na cabala hebraica é também célebre a permutação ROTA -- TORÁ -- TARÓ. (…) A cabala hebraica completa-se com o Taró que, pelo seu carácter de jogo, simboliza o tempo, o movimento e a história. Cada uma das 22 letras do “alfabeto” hebraico é tida por um símbolo, concretizado pelo desenho, que aparece na ordem benéfica ou maléfica dos acontecimentos humanos. É próprio de cada sorte servir de sortilégio, e por isso os jogos podem ser interpretados com função jocosa, profética e divinatória, segundo os costumes dos povos».

Eis o grande jogo das afinidades -- das letras, dos pensamentos, dos homens. Pelo menos, de alguns.

 (Apontamento final: um habitante de Praga que sobreviveu ao genocídio nazi conta que, quando os alemães ocuparam a cidade, decidiram destruir a sinagoga onde supostamente a massa novamente informe do Golem teria sido guardada e que para eles representava a memória de uma «raça» inferior. Estavam prestes a executar essa tarefa quando subitamente, no silêncio da sinagoga, se ouviram os passos de um gigante que caminhava sobre o telhado. Então viram a sombra de uma mão gigantesca que entrava pela janela e se projectava no soalho… Aterrorizados, largaram as ferramentas e fugiram dali em pânico…)

«OS MEUS PREFÁCIOS». 07

20-09-2014 14:27

PRÓLOGO A POR OUTRAS PALAVRAS, DE IVONE DE MOURA[1]

[Ferdinand de Saussure]

 

Este livro de recolha de expressões e de frases idiomáticas, com seu significado e suas aplicações, além da utilidade que, porventura, possua no domínio da aprendizagem da língua portuguesa por estrangeiros, gratifica quem pretenda surpreender a língua na originalidade do seu génio inventivo. Idiomático, com efeito, significa o que é próprio (do grego idios), no sentido de único ou original. A velha expressão de “frases idiomáticas” tem, todavia, o defeito, pelo destaque que produz no conjunto da língua, de fazer esquecer que toda ela é um idioma, como quem dissesse que numa língua só há de próprio as frases que se dizem idiomáticas, sendo o resto facilmente convertível nas formas faladas pelos outros povos. Idiomático significaria então o que é intraduzível e daí derivaria a utilidade de um dicionário de frases que, traduzidas palavra a palavra para outra língua, perdem o sentido que têm ou ficam até sem sentido nenhum. Por exemplo, se traduzirmos tanto me dá por tant me donne, nunca mais um francês saberá que está perante um ça m’est égal.

É famoso o texto de Teixeira de Pascoaes que dá por intraduzíveis algumas palavras da língua portuguesa, como, por exemplo, ermo e saudade. Como se sabe, o poeta identificava a saudade com o génio feminino do nosso povo. Compreende-se que ele destacasse algumas palavras para a natureza inconfundível do nosso sentimento e do nosso pensamento. A verdade é que todas as palavras, no plano poético em que Pascoaes as situa, são intraduzíveis. Isto é, não há nas outras línguas termos que lhes correspondam exactamente. Mais claramente impossível é dar noutras línguas o modo de dizer da nossa.

Dir-se-á que esse é o ponto de vista de um poeta e não dos linguistas. Poeta é o que faz a língua, linguista o que a ensina. Por outro lado, o poeta parece gozar do privilégio de autoridade, tanto mais se for verdadeiro o adágio de que “quem sabe faz, quem não sabe ensina”. O que é que ensinam os linguistas?

O mais notável de todos eles, porque estabeleceu os princípios que, aplicados ou desenvolvidos, deram toda a linguística do século XX, é, sem dúvida, o suíço Fernando Saussure. O primeiro desses princípios é o que diz que a relação entre o significado e o significante é convencional ou arbitrária. O mesmo conceito, argumenta ele, exprime-se nas diversas línguas por sequências sonoras diferentes, o que vem provar que entre o conceito e a sequência sonora (a palavra) que numa dada língua o significa, não há uma relação necessária. Dá como exemplo as palavras boi e boeuf. As diferenças fonéticas não alteram o conceito que o homem forma do animal e muito menos introduz um novo conceito. Ouvi contar a seguinte anedota. Numa universidade francesa, um aluno depois de ter ouvido o professor expor o argumento de Saussure, pôs toda a gente a rir com a seguinte observação : “Quer dizer” disse o aluno “entre o conceito e as palavras que o significam em duas ou mais línguas só haveria uma relação necessária se essas palavras fossem exactamente iguais”. Os outros riram-se mas era o aluno quem tinha razão. O argumento não é argumento porque afirma o que se pretende provar, é uma petição de princípio.

A ilusão de que é possível traduzir, transportando na tradução tudo o que foi dito, resulta da correspondência que facilmente se estabelece entre termos destituídos de alma, termos que são simples indicações de objectos e de movimentos, cuja associação constitui o que os psicólogos da linguagem designam pela expressão de linguagem prática : “Dê-me um cigarro!”, “Vou ao cinema”, etc. O verbo dar, por exemplo, enquanto designa o movimento simples de entregar, de passar para outro, corresponde mais ou menos a donner. “Eu dou o livro”. “Je donne le livre”. Em expressões como dar de sideu-se um acontecimento já o donner não serve. Fernando Saussure escolheu boi e boeuf. Poderia ter chegado à mesma conclusão comparando saudade e souvenir, por exemplo. O título do seu livro é amplamente ambicioso: Cours de Linguistique Général. Só que não há linguística geral, porque o pensamento, de que a língua é o domínio, não é uma matemática.

Toda a gente conhece a dificuldade que é falar uma língua, por exemplo, a francesa, pensando primeiro em português e fazendo, depois, a conversão mental da frase. Em psiquiatria regista-se o caso de uma pessoa esquecer completamente a língua mãe, mantendo, no entanto, a plena posse de outra língua que, anos atrás, aprendeu a falar correntemente. Isto mostra, ao mesmo tempo, que o que é possível ter por arbitrário é a relação entre a língua e o sangue. Neste sentido, observou Eduardo Sapir que a mesma língua pode ser falada por diferentes povos e o mesmo povo falar diferentes línguas.

A frase de Fernando Pessoa, tantas vezes referida, “Minha Pátria é a língua portuguesa” aparece frequentemente alterada em “A minha Pátria é a língua portuguesa”. Ele não poderia ter escrito a minha, com o artigo definido, porque também sua Pátria era a língua inglesa. Como se vê, não é intenção deste prefácio a apologia do nacionalismo, mas sim propor o verdadeiro universalismo que tem como imprescindível condição o reconhecimento das diferenças. É que cada língua é uma criação espiritual ou, como diria Fernando Pessoa, uma pátria espiritual. Se interpretarmos, com o estruturalismo, as línguas como mecanismos de fazer o pensamento, teremos ao mesmo tempo de lembrar o dizer de Leonardo Coimbra de que “a mecânica é o socorro de Deus enviado ao nada.” E então aprende-se a verdadeira relação da língua com o povo que a fala. O destino e a liberdade do povo é pela língua que se cumprem.

É de observar que, ao dizermos que uma língua é um mecanismo, não significa que a representemos pelo modelo das máquinas fabricadas pelo homem. O que são estas afinal? Uma imitação da natureza no que ela tem de exterior. Nelas, a força que as move actua por contacto. No ser vivo, mesmo que o entendamos como um mecanismo, a força actua por afinidade e por simpatia, por tal modo que a parte é homóloga do todo. Nos seres espirituais, aquela primeira relação inverte-se, é a máquina que cria o movimento. Compreenderemos isto se dissermos que o fim é a comunicação universal dos espíritos. Há dois planos que são difíceis à nossa comunicação : é o das inteligências inferiores à nossa e o das inteligências superiores à nossa. O pensamento é o movimento, que é como Álvaro Ribeiro interpreta La Pensée et le Mouvant de Bergson. A língua é uma criação espiritual criadora de pensamento.

A distância entre os homens não se vence pela uniformização linguística porque ela, a dar-se, seria o resultado de uma espécie de entropia bem mais perigosa do que a perda de energia física. Tudo quanto concorra à recuperação da energia espiritual pela valorização das línguas deve merecer a nossa melhor simpatia. Julgo ser esse o caso do livro que apresentamos.

 

António Telmo

 


[1] Por Outras Palavras: dicionário das frases idiomáticas mais usadas na língua portuguesa, recolha e organização de Ivone de Moura, Edições Ledo, Lisboa, 1995, pp. 5-8.

 

INÉDITOS. 26

19-09-2014 09:49

Sobre Linguística. 02[1]

[Benjamin Lee-Whorf]

 

É significativo que no nosso ensino escolar se tenha adoptado a “gramática” de Noam Chomsky e totalmente esquecido o trabalho de outros linguistas justamente celebrados no estrangeiro (no Brasil, através de Câmara Júnior). Refiro-me a Eduardo Sapir e a Benjamin Lee-Whorf. Tudo se explica quando se verifica que estes dois linguistas são os fundadores de uma escola cuja tese basilar é a seguinte: cada língua tem as suas próprias categorias lógicas. Embora seja possível estabelecer grupos de afinidade, a verdade é que não é possível, a partir de uma observação objectiva das formas de cada língua, adoptar como modelo explicativo a “estrutura” das línguas indo-europeias sem violentar a índole natural das línguas não-europeias.   


António Telmo
 

[1] Título da responsabilidade do editor.

 

INÉDITOS. 25

17-09-2014 12:23

Sobre Linguística. 01[1]

[Edward Sapir]

 

1978 é, entre outras coisas, assinalado pela instauração da “gramática generativa” no ensino oficial. “Tudo na natureza conspira” diz o conhecido e misterioso adágio poético e também no mundo político. O termo gramática generativa é a tradução fonética de “generative grammar” , pois em língua portuguesa dever-se-ia dizer “gerativa” ou “geratriz”. Primeiro sinal de desnacionalização. Vem da América do Norte onde a teorizou um judeu linguista – Noam Chomsky. Outro judeu, também nórdico, Jacobson, estabeleceu a moderna “teoria da comunicação”, que, com a “gramática generativa”, compõe a dupla directriz dos nossos programas de ensino da língua portuguesa. Assim, como diriam os políticos de esquerda, os dois imperialismos – o americano e o russo – actuam linguisticamente, através da Universidade, sobre este pobre e ínclito povo para o qual Fernando Pessoa indicou 1978 como a data mortal. Se a Pátria, como ele disse, é a língua, compreende o leitor quanto virá a ser decisiva esta alteração do programa de português nas nossas escolas.

No actual contexto do mundo humano, é impossível resistir ao domínio técnico e económico do bicórnio nórdico.

A única resistência ainda possível é a língua. Se conseguimos desarticulá-la, feri-la, aniquilá-la então nada mais resta e a invasão material far-se-á sem obstáculo.

Como então?

A “gramática generativa” parte do princípio de que há uma só estrutura para todas as línguas – a própria estrutura da mente humana. A gramática normativa de que o imperialismo jesuíta se serviu noutras circunstâncias históricas oferece o defeito de se impor de fora como um molde, enquanto que esta diz que a “norma” universal está nas próprias línguas, de que as próprias línguas são determinadas leis sempre as mesmas em movimento. Neste caso, distinguem-se umas das outras por acidente, senão por outras razões que o materialismo dialéctico estabelece.

Se assim é, não há que discutir. Aceitar e seguir em frente.

Só que…

Só que na América do Norte e no próprio império germânico-russo nem todos pensam assim. Os nossos universitários, que estão por detrás da reforma do ensino, conhecem muito bem a hipótese Sapir-Lee Whorf, quanto a nós a única doutrina linguística que, sem negar a unidade do género humano, a entende como uma verdadeira e coerente unidade porque levantada sobre os diferentes.  

 

António Telmo



[1] Título da responsabilidade do editor.

 

INÉDITOS. 24

15-09-2014 15:54

O muro[1]

A estrada, pela qual se sai de Estremoz para Borba, corre, em dado momento, ao lado do cemitério. Junto a uma árvore, há um pequeno espaço onde me pus com o meu carro. Para a direita, há uma berma coberta de verdura e, a alguns metros dessa berma, o muro do cemitério. Por cima do muro podemos ver um jazigo de mármore.

Vi, olhando para o muro, que ele de súbito tomava a aparência de um lago de 40 metros de largura e uns 100 de metros de comprimento. A água era de um cinzento azulado.

Vi depois que, segundo queria, via o muro ou via o lago. Fui lá nos dias seguintes e de novo verifiquei que eu comandava, segundo a minha intenção, a percepção a haver. Repetiu-se o mesmo no 5.º dia.

 

António Telmo



[1] Título da responsabilidade do editor.

 

INÉDITOS. 23

13-09-2014 13:09

Rafael Monteiro

Jantávamos no Café do Chagas. Lá para o fim da refeição, fosse por causa de uma leve embriaguez, fosse por uma razão menos visível, vi, enquanto ele me falava dos últimos acontecimentos políticos, que o seu rosto se modificou, tomando a forma de um chinês com barbicha e cabelo apanhado ao alto.

 

António Telmo

INÉDITOS. 22

10-09-2014 15:29

Definição[1]

Sou um homem frágil, indolente, medroso, mas sou, ao mesmo tempo, forte, aventureiro, corajoso. Entre um e outro é que me situo verdadeiramente. Meus erros devem-se a esta oscilação, a este vaguear da alma entre fronteiras: uma que traça o limite da desolação e a outra que é começo do lugar das longas planícies com montanhas ao fim. 

 

António Telmo

 

[1] Título da responsabilidade do editor.

 

INÉDITOS. 21

08-09-2014 09:28

Três seres distintos em mim[1]

 

                            30 de Outubro de 1977

Três seres distintos em mim. Seres ou formas: o Tó (ainda hoje alguns vêem em mim a criança e esta imagem que de mim fazem também ainda muitas vezes me identifico com ela); o António Telmo (meu nome literário e suporte do meu “centro magnético”; é completamente diferente do Tó), o António Vitorino (meu nome hereditário, que estabelece imediatamente uma relação com a família e a hereditariedade); e outros muitos de que tenho uma vaga consciência ou um vago sentimento. Há uma imagem criada na relação com o sexo; outra, que não é exactamente o António Telmo, relacionada com o “ocultismo”; outras que nascem conforme a situação em que me encontro: o professor, o convivente de café; o desportista; etc…

Sinto-me como os outros me pensam ou como sinto que os outros me pensam. Quando estou com o Rafael não sou o mesmo de quando estou com o Reis Marques ou o Francisco ou o Patrício ou os meus filhos ou a minha mulher.

No domínio do pensamento, divido-me entre o católico para quem o mundo é o que é e o maçon para quem há que fazer o mundo. Entre Leonardo Coimbra e Sampaio Bruno?

Como sair desta embrulhada? [António Telmo desenhou em seguida, nesta mesma linha, um delta, com um G inscrito ao centro, seguido de um ponto de interrogação] 

 

António Telmo



[1] Título da responsabilidade do editor.

 

VERDES ANOS. 07

04-09-2014 09:07

Traição dos «Clercs»[1]

 

Dirigem-se estas linhas àqueles que, sendo escritores por vocação irrecusável, reconhecem ao mesmo tempo que a literatura, tal como se encontra socializada, constitui um meio em que pode perder-se a essência ígnea que eles põem em movimento. Existem, efectivamente, homens para os quais escrever actua como um comando interior, mas que visam outra coisa que não se identifica com a literatura nem com qualquer das formas – místicas, políticas, religiosas, filosóficas –, por que é conhecida vulgarmente a manifestação do espírito. A situação desses homens é eminentemente problemática. Como resolvê-la?

Uma atitude indispensável é tomar as manifestações literárias no que elas são: qualquer coisa que não é mais nem menos do que o resto, que não goza, por mais espiritual ou intelectual que pareça, de nenhuma superioridade sobre as restantes formas de actividade humana. Ver na literatura o domínio em que o espírito eminentemente se revela, sentir isso na forma de admiração pelos génios alheios ou pelos próprios, eis o que caracteriza a disposição íntima do literato. Este sentimento ligado à impressão de que para escrever não faz falta pensar, pode ser uma das explicações da razão por que nos últimos anos tem aumentado tanto o número dos escritores. Não há adolescente que não se julgue um génio em potência; não há homem que, depois de ter recebido os aplausos do seu grupo ao primeiro livro publicado, não se creia um génio definitivo. Se perguntarmos, porém, o que é um livro de versos – até mesmo a Divina Comédia –, ou um romance – até mesmo As Afinidades Electivas, ou uma tragédia – até mesmo o Hamlet, verificamos que só por os referirmos a algo que não é literatura e que nada tem que ver com «talentos» e «génios» podem assumir um real interesse. Esse algo aponta para as raízes da vida, para a tremenda verdade do mistério essencial.

Outra atitude indispensável é a de guardar o anonimato. Assim se evitará o perigo ocasional do prestígio, que é o brilho do próprio nome actuando negativamente sobre o indivíduo que, em vez de o ter, dele é tido. Como se guarda, porém, o anonimato? Como guardá-lo? Melhor, como consegui-lo?

Numa época em que todos estamos socialmente identificados, os pseudónimos podem servir apenas como um processo de anonimato construído interiormente. Pelo pseudónimo somos anónimos para nós mesmos. A sua adopção actua como um processo mágico sobre quem o adoptou. Eu não sou eu e sou outro. Desde que se mantenha firmemente o intervalo, não atribuindo importância aos sucessos ou insucessos do nosso outro (e o facto de ser outro a tê-los favorece esta atitude de superioridade) realiza-se uma espécie de desdobramento que, sendo ainda meramente formal, constitui todavia um exercício libertador. A exacta vivência do pseudónimo transforma-o em heterónimo. No caso de Fernando Pessoa, a projecção e animação de alguns elementos constitutivos do seu ser preparou e acompanhou a desidentificação em relação à «pessoa aparente com que vivia física e socialmente».

A sociedade ilude-se quando julga que homem fica identificado desde que sejam fixadas com precisão as linhas de referência exteriores. O escritor deve, porém, tomar consciência desta impossibilidade e viver activamente por processos intelectuais o princípio em que radica a infinita possibilidade de se dar a si próprio formas diversas. Consciente da sua dignidade inominável, pode depois descer ao mundo literário sem perigo de ser contaminado.

Uma terceira atitude indispensável é a do segredo quanto à própria doutrina que defende. Deve apresentá-la de tal modo que a critiquem ali onde ela não está e que ignorem ali onde ela parece não estar. Isso fez também Fernando Pessoa, que defendeu ao mesmo tempo várias doutrinas nos campos político, religioso, filosófico –, mas que só pôde fazer isso porque de todas se serviu sem contradição para justificar e realizar aquela tal que, sendo doutrina, quando se apreende já é outra coisa.

Estas três atitudes, que se poderiam multiplicar em seis, nove ou mais, concentram-se numa directriz única essencial: a de manter um destaque em relação a nós e ao ambiente que escolhemos ou nos escolheram para actuar. Quer isto dizer que o escritor do tipo indicado é para literatos que escreve? Ou que da literatura se serve para levar longe a sua influência?        

O literato português, e falamos dele sempre de um modo geral e abrangendo nesse termo não só o poeta como o crítico, não só o romancista como o historiógrafo, não pode constituir o tipo de leitor que convém ao escritor que definimos. Esta cultura que passamos a examinar e que é a da dissociação da poesia e da prosa em termos tais que exprimem uma mentalidade definitivamente cindida e fechada. Observe-se, no exemplo mais alto, a incapacidade que poetas e romancistas de indiscutível valor mostram em transpor para o domínio da prosa reflexiva a problemática fundamental que os preocupou no romance ou no poema. Por outro lado, aquilo que predomina na crítica, no artigo, na notícia, no ensaio é uma prosa de tipo desportivo, com a preocupação dos valores adjectivos – coisa evidente para quem se der ao trabalho de comparar, nas respectivas publicações, os dois tipos de linguagem. Determinado escritor deve treinar-se ainda, neste livro mostra mais qualidades, é já uma promessa das nossas letras, é superior àquele e inferior a este, deve procurar outra profissão, etc., etc…. Tudo isto numa prosa mascarada em que se pensa tão-pouco que quem tem a paciência de a ler, semana após semana, jornal após jornal, chega, por vezes, a suspeitar que, se há quem pense, com certeza não escreve. Ao lado dos escritos de apreciação ou intercruzados com estes, temos, com carácter mais científico, aqueles em que friamente se situa o escritor estudado na época em que viveu ou vive, na escola a que pertenceu ou pertence, no meio social que o definiu ou define. Não será preciso procurar muito para encontrar algo nas folhas desportivas. Tudo, porém, muito respeitado porque se trata de «crítica» e de «sociologia».

Aos poetas consente a sociedade literata que se ocupem de «problemas metafísicos», porque a poesia e o romance pertencem ao reino da fantasia, do sonho e do irreal. A poesia é uma forma de deleite, de passatempo, de evasão. Tratar em prosa, e numa linguagem firme, positiva, em que o conceito domina a palavra, segredos como o do amor e da morte ou o da sedução feminina ou o da reminiscência activa, constitui um crime que deve ser apontado e logo esquecido, quando não for castigado pelos vários processos de crueldade social. É que a prosa vem a dar a consciência lúcida da realidade que, na poesia, no romance e no teatro fora conhecida por vias semiconscientes e segundo a categoria da espontaneidade – o que equivale a querer realizar o acto absurdo de trazer a noite para dentro do dia.

Neste panorama ou nesta ambiência nada há a esperar daqueles que, por este ou por aquele motivo que a psicologia mais superficial explica, deixaram a «poética» pela «crítica»; mas nada impede que por um acto de transcensão inferior os artistas que no domínio da espontaneidade são espíritos que vêem façam por pensar os mesmos temas em prosa, naquela prosa que se adequa ao seu conceito, e realizem assim sensivelmente o trânsito para o tipo de homem superior. Claro que o círculo perfeito supõe um terceiro termo, aquele que, para lá da espontaneidade e da lucidez, a ordem dos espíritos que podem define como operatividade.       

 

António Telmo



[1] Chave, 1.º ano, n.º 2, Lisboa, Maio de 1964, p. 8.

 

DOS LIVROS. 18

02-09-2014 09:06

De um caderno de apontamentos. 08

Voltei a ler A Estranha História de Peter Schlemhil, o que me levou a imaginar o que seria essa história se, em vez de ter vendido a sua sombra, Peter Schlemhil tivesse vendido a sua imagem. O diabo, uma vez fechado o negócio, dobrou várias vezes a sombra e recolheu-a num pequeno saco; faria o mesmo com a imagem projectada num espelho.

Quais seriam as consequências, não previstas pelo vendedor? Já sabia, antes de fechar o negócio, que deixaria de poder contemplar-se no espelho. Fora dos seus cálculos e bem mais importante é que se tornaria invisível, dado que não teria imagem para se reflectir nos olhos das outras pessoas. Ouviam-no e tocavam-no, mas não o viam. Isto lançou o pavor à sua volta. Como Peter Schlemhil, teria de fugir para onde nunca o tivessem conhecido. Mas não poderia comprar nada porque poria em pânico todo um mercado. Para comer teria de roubar, o que lhe era, aliás, muito fácil.

A única convivência possível seria com um poeta, um filósofo, um louco, desde que fossem verdadeiros. Também surgiria uma mulher por quem se apaixonaria, mas que se veria impedida de amar o que não tem imagem.

Etc., etc., etc..

Simbolismo: os espíritos que vivem entre nós invisíveis terão um drama semelhante? Vêem-nos e não podem ser vistos, só pelos outros sentidos podem ser contactados, dominantemente pelo ouvido. Não foi assim que Sampaio Bruno terá imaginado os anjos?

 

António Telmo

 

(Publicado em Viagem a Granada, 2005)

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